Centenas de israelenses foram às ruas na noite desta quinta-feira (17) protestar contra o reconfinamento determinado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a partir desta sexta-feira (18) em Israel.
O isolamento imposto nas próximas três semanas, para conter a epidemia de coronavírus que voltou a assolar o país, deixa muitos habitantes preocupados com o desemprego e o agravamento da crise econômica.
O isolamento forçado dos israelenses coincide com o início dos feriados mais importantes do calendário religioso judaico: Rosh Hashana (Ano Novo), Yom Kipur (Dia do Perdão) e Sucot (Festa das Cabanas ou das Colheitas), que começam nesta sexta e se estendem até 11 de outubro.
“Quando Netanyahu anunciou o reconfinamento, pensei em me matar”, disse Yael, uma israelense que participou do protesto noturno em Tel Aviv. Para essa secretária de 60 anos, que trabalhava em um escritório de arquitetura e perdeu seu emprego por causa da crise, o fechamento da economia, anunciada no último domingo por Netanyahu, não é um bom presságio.
“A economia está declinando, as pessoas estão perdendo seus empregos, estão deprimidas. E para quê? Para nada”, disse Yael durante a manifestação que reuniu entre 300 e 400 pessoas na principal cidade do país. “A Europa está gradualmente voltando ao normal e nós, em Israel, estamos voltando para trás”, lamentou.
Os israelenses aceitaram sem reclamar o primeiro “lockdown”, nos meses de março e abril, que coincidiu com a Páscoa judaica. Mas desta vez estão frustrados e sobretudo inquietos com a situação financeira.
O país de 9 milhões de habitantes registrou oficialmente mais de 172.000 casos de coronavírus, incluindo 1.163 mortes, desde o início da pandemia. Depois de cerca de dez semanas de restrições, o contágio parecia controlado.
Mas com a reabertura rápida, a partir de junho, o vírus voltou a circular com intensidade. De acordo com a contagem da agência AFP, Israel foi a nação do mundo que registrou a maior taxa de contaminações por Covid-19 nas duas últimas semanas.
“O sistema de saúde levantou a bandeira vermelha na semana passada (…) Temos feito de tudo para tentar encontrar um equilíbrio entre as necessidades de saúde e econômicas, mas estamos testemunhando um aumento preocupante da contaminações e do número de doentes em estado grave nos últimos dois dias”, explicou Netanyahu em um pronunciamento transmitido pela TV na noite de quinta-feira.
Ele acrescentou que não hesitaria, se necessário, em endurecer as medidas de restrição, que são mal digeridas por uma parcela da população.
“Medida agressiva”
“É uma medida agressiva, que assola a economia e que não serve para deter a epidemia. A única razão de o governo impor um novo confinamento é que ele está totalmente perdido (… ), porque falhou completamente na gestão do coronavírus“, criticou o líder de oposição Yair Lapid.
Os israelenses não poderão se deslocar a mais de 500 metros de suas casas, exceto para ir ao supermercado, à farmácia ou ao trabalho, se for uma profissão considerada essencial.
Exceções estão planejadas, como ir a um “funeral ou circuncisão”, informou o Ministério da Saúde nesta quinta-feira. As autoridades impuseram restrições aos locais de culto. Como as sinagogas geralmente ficam lotadas nos dois dias de Rosh Hashanah e especialmente no Yom Kipur, neste ano os fiéis só poderão orar nas sinagogas de acordo com o tamanho do templo, se for possível garantir o distanciamento físico.
Pela primeira vez em sua história, a Grande Sinagoga de Jerusalém não sediará as celebrações do Ano Novo Judaico devido às restrições impostas para combater a epidemia.
Este novo confinamento também deve impedir as manifestações que ocorrem há três meses em frente à residência oficial do primeiro-ministro, localizada na rua Balfour, em Jerusalém. Aos sábados à noite, milhares de israelenses insatisfeitos com os escândalos de corrupção envolvendo Netanyahu se reúnem para denunciar a gestão econômica do governo e área da saúde, em meio à pandemia.
Para Yaniv Segal, um jovem membro da “Frente Rosa”, um grupo ativista pelos “mais fracos” em uma sociedade “cada vez mais cruel”, o confinamento “não é a solução certa para tratar o coronavírus”. “A restrição é política! É para impedir as manifestações em Balfour”, disse ele.
// RFI