Decisão tomada por Alemanha, Polônia e Suécia é resposta a medida semelhante adotada por Moscou. Governo russo classifica reação ocidental como “infundada e hostil”.
A Alemanha, a Polônia e a Suécia anunciaram nesta segunda-feira (08/02) a expulsão de diplomatas russos em retaliação coordenada à decisão russa de expulsar três diplomatas europeus, acusando-os de participar em manifestações “não autorizadas” em apoio ao crítico do Kremlin Alexei Navalny.
Os três países da União Europeia (UE) decidiram expulsar um diplomata russo cada um, numa decisão que a Rússia classificou como uma intromissão em assuntos internos. A disputa diplomática ocorre num momento de tensão entre Moscou e Bruxelas, agravado pelo prisão de Navalny.
Em comunicado, o Ministério do Exterior da Alemanha lamentou a expulsão do diplomata alemão pela Rússia na semana passada e afirmou que ele estava apenas “cumprindo a tarefa de reportar a evolução dos acontecimentos por meios legais”. A Suécia ecoou a postura alemã e chamou as expulsões de “inaceitáveis”.
O Ministério do Exterior da Polônia, por sua vez, afirmou que um funcionário do consulado geral da Rússia em Poznan foi reconhecido como persona non grata “de acordo com o princípio de reciprocidade e em coordenação com a Alemanha e a Suécia”.
Moscou condenou a reação dos países europeus. “A decisão adotada pela Polônia, Alemanha e Suécia é infundada e hostil“, declarou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério do Exterior russo, denunciando o que chamou de “ingerência” ocidental nos assuntos internos da Rússia.
Disputa diplomática
As expulsões ocorrem num momento em que os 27 países-membros da UE refletem sobre o futuro das conturbadas relações com a Rússia, em meio à crescente preocupação com a visão russa sobre democracia.
Na sexta-feira, a Rússia decidiu expulsar três diplomatas da Alemanha, Suécia e Polônia, após alegar que eles participaram de protestos em apoio a Navalny. O ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, declarou que tais ações eram “inaceitáveis” e não correspondiam “ao status diplomático”.
O anúncio foi feito após um encontro em Moscou entre Lavrov e o alto representante para Assuntos Externos da União Europeia, Josep Borrell.
Devido ao tratamento a Navalny, as relações entre Moscou e a UE teriam chegado a um ponto crítico, sentenciou Borrell. Em contrapartida, Lavrov classificou o bloco europeu como um “parceiro não confiável”.
Após o anúncio de Moscou, os países de origem dos diplomatas condenaram a atitude de Moscou e prometeram uma retaliação à altura.
Apoio popular e internacional a Navalny
As relações entre a Rússia e a União Europeia estão mais tensas desde que Navalny foi detido no Aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, em 17 de janeiro.
O ativista de 44 anos retornava a seu país após cinco meses se recuperando na Alemanha de uma tentativa de envenenamento com o agente nervoso Novichok, que ele atribui ao Kremlin e ao serviço secreto. Autoridades russas, inclusive o próprio presidente Vladimir Putin, têm negado envolvimento no atentado.
Na terça-feira passada, o oposicionista foi julgado em Moscou por suposta violação dos termos de sua liberdade condicional, num processo considerado meramente político por muitos, sendo condenado a cumprir no cárcere os restantes dois anos e meio da sentença.
Manifestações em massa exigindo a libertação de Navalny e a renúncia de Putin varreram o país nos últimos fins de semana. Milhares de participantes dos protestos foram detidos pela polícia. Na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, exigiu que a Rússia liberte o ativista, sugerindo eventuais sanções caso isso não ocorra.