A cúpula entre o presidente dos EUA e o líder da Coreia do Norte teve início nesta terça-feira (12), em Cingapura, assinalada por um histórico aperto de mão e pela assinatura de um acordo que promete ao mundo “uma grande mudança”.
Donald Trump foi o primeiro a chegar ao Capella Hotel, na cidade-Estado de Cingapura, para o encontro histórico que tinha como objetivo encontrar uma forma de proceder à desnuclearização da Coreia do Norte, com Kim Jong-un chegando logo depois.
Esse foi o primeiro encontro entre os líderes dos dois países depois de quase 70 anos de confrontos políticos no seguimento da Guerra da Coreia e de 25 anos de tensão sobre o programa nuclear de Pyongyang. O encontro entre os dois líderes começou com um simbólico aperto de mão.
No início da histórica cúpula em Cingapura, o presidente dos EUA disse “não ter dúvidas” de que terá um “ótimo relacionamento” com o líder norte-coreano. “Antigos preconceitos e velhos hábitos têm sido obstáculos, mas superamos todos eles para nos encontrarmos aqui hoje”, disse, por sua vez vez, Kim Jong-un.
Depois de uma reunião, Trump e Kim Jong-un anunciaram ter assinado um documento conjunto e tiveram um discurso marcado pela sintonia: “ambas as partes ficarão muito impressionadas com os resultados”.
Kim Jong-un classificou a cúpula como “um encontro e um documento histórico”, garantindo que “o mundo verá uma grande mudança”. Já Donald Trump assegurou que “a relação com a Coreia do Norte e a península coreana irá melhorar”.
De acordo com a France-Presse (AFP), que fotografou o documento, o texto não menciona a exigência norte-americana de “desnuclearização completa e irreversível”, mas reafirma um compromisso, mais vago, de “desnuclearização completa da península da Coreia”.
Por outro lado, no mesmo texto, os EUA “garantem a segurança da Coreia do Norte”. “O presidente Trump se compromete em fornecer as garantias de segurança” à Coreia do Norte, indica a primeira informação sobre o documento conjunto.
“É um grande dia para a história mundial”
Depois da cúpula, o presidente dos EUA deu uma coletiva de imprensa aos jornalistas, na qual deixou uma “mensagem de esperança e visão”, cita o Jornal de Notícias.
“Quero agradecer ao general Kim pelo primeiro passo para o melhor futuro das pessoas do país. O encontro foi honesto, direto e produtivo“, disse Trump.
“É um grande dia para a história mundial”, acrescentou o chefe de Estado, agradecendo aos aliados asiáticos. “Quero agradecer a Cingapura, que tornou a visita tão importante e agradável. Quero agradecer ao presidente Moon, da Coreia do Sul. Ao presidente do Japão e também ao presidente da China, um grande líder e um amigo”.
“Estamos preparados para construir uma nova história”, disse Trump. Ao recordar que “muitas pessoas morreram nos conflitos na península coreana”, o presidente dos EUA destacou que “o passado não pode definir o futuro” e, por isso, mostrou confiança no líder norte-coreano para “continuar a trabalhar pela paz”.
“A paz vale sempre a pena. Isso deveria ter sido resolvido há muito tempo. Qualquer pessoa poder criar guerra, mas só os corajosos podem construir a paz“, acrescentou.
No entanto, informa o ECO, as sanções econômicas contra a Coreia do Norte continuarão até que a ameaça nuclear tenha desaparecido por completo. Porém, Trump não admite sequer a possibilidade de que o acordo não seja cumprido porque ambas as partes têm a ganhar.
“Não há limite para o que a Coreia do Norte pode alcançar” com este acordo. “O presidente Kim tem perante dele uma oportunidade única para ser recordado como alguém que abriu uma nova era de prosperidade e segurança”, afirmou Trump, citado pelo jornal.
Além disso, o presidente revelou que irá pôr fim aos exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul e que pretende reduzir o número de militares mobilizados na região. “Temos 32 mil soldados na Coreia do Sul e eu quero trazê-los para casa“, explicou. “Não acredito que seja possível fazer isso agora, mas quero terminar com os jogos de guerra”.
O chefe de Estado deixou ainda críticas às administrações que o antecederam, considerando que “teria sido mais fácil se isto tivesse acontecido há dez anos”.
“Não é uma crítica apenas a Barack Obama, mas a todos os que me antecederam. Fiz isso porque é um tema prioritário para mim e isto nunca seria possível se não fosse uma prioridade”, frisou.
Trump admitiu ainda visitar Pyongyang no futuro e acrescentou também que já convidou o líder norte-coreano para ir aos EUA, tendo o convite sido aceito por Kim, que garantiu que a viagem vai acontecer numa altura apropriada.
China fala de uma “nova história”
A China considerou que os EUA e a Coreia do Norte estão “criando uma nova história”, depois da cúpula, e lembrou sua contribuição para a pacificação da península. “A China apoia porque é aquilo que temos esperado”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang.
Geng lembrou o contributo da China para a resolução da questão norte-coreana: a proposta de “dupla suspensão”, sendo o fim das manobras militares dos EUA e da Coreia do Sul na península coreana e, ao mesmo tempo, o cessar dos testes com armamento nuclear por parte da Coreia do Norte.
“A proposta de suspensão por suspensão é correta e foi concretizada”, afirmou Geng, lembrando que Pequim “tem apelado aos dois lados para que mantenham o diálogo diplomático”.
O porta-voz lembrou ainda a importância de os EUA “levarem seriamente e atenderem as preocupações com a segurança da Coreia do Norte”. “A outra parte deve também tomar medidas construtivas”, afirmou.
As expectativas e as incertezas em torno do encontro eram elevadas, após três meses de acidentadas negociações, em que a cúpula chegou mesmo a ser cancelada por Trump.
O regime norte-coreano se mostrou disposto a abandonar seu programa nuclear durante a reunião que as duas Coreias realizaram no dia 27 de abril, na zona desmilitarizada da fronteira, pretendendo um processo de desarmamento progressivo.
Ciberia, Lusa // ZAP