Após a análise de novos dados científicos, a agência nacional de segurança sanitária da França (ANSES) atualizou nesta quinta-feira (19) o relatório publicado em abril de 2020 sobre o potencial de transmissão da Covid-19 por meio de animais.
A agência confirma que, até o momento, nem animais domésticos, nem silvestres, desempenham um papel epidemiológico na propagação do SARS-CoV-2 na França. A transmissão do vírus para humanos é hoje exclusivamente o resultado de um transmissão respiratória entre duas pessoas.
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Certas situações específicas em algumas espécies animais, como uma alta receptividade ao SARS-CoV-2, porém, requerem vigilância para não constituírem, no futuro, um reservatório animal favorável à disseminação do vírus, como em criações de animais silvestres para consumo humano.
Receptividade animal ao SARS-CoV-2
No que diz respeito aos animais de companhia, recomenda-se que as pessoas contaminadas pela Covid-19 respeitem um período de distanciamento de seus pets, para limitar os riscos de infecção de humanos para os animais domésticos, mesmo que isso não comprometa o seu bem-estar.
A receptividade ao SARS-CoV-2 é a capacidade de uma espécie animal de abrigar o vírus sem necessariamente desenvolver sintomas. A sensibilidade é a capacidade da espécie animal de expressar sinais clínicos e/ou lesões devido ao vírus. Os dados disponíveis para definir se uma espécie animal é receptiva ou sensível ao vírus SARS-CoV-2 vêm de infecções experimentais ou de infecções naturais observadas no campo.
Sensibilidades diferentes entre espécies animais
Nenhuma infecção experimental ainda mostrou que galinhas, perus e patos sejam receptivos ou sensíveis ao SARS-CoV-2, segundo o estudo da ANSES. Além disso, nenhum dado sobre infecção natural foi registrado até o momento entre estas espécies.
Em relação a bovinos e suínos, estudos adicionais são necessários para confirmar ou negar sua receptividade ao SARS-CoV-2, mas estudos previamente publicados mostram que esses animais não são sensíveis ao vírus.
Este tipo de sensibilidade ainda precisa ser confirmada entre coelhos e cães, para saber se estes animais são receptivos ao SARS-CoV-2. Muito poucos cães desenvolveram sinais clínicos em condições naturais devido aos níveis muito elevados de exposição ao vírus [milhares de pessoas infectadas com Covid-19 estiveram em contato próximo com seus cães].
Além disso, os testes realizados entre cães não conseguiram demonstrar a transmissão do vírus entre eles. Finalmente, não há atualmente dados científicos mostrando a transmissão do SARS-CoV-2 de cães para outra espécie.
Os gatos são receptivos e sensíveis ao SARS-CoV-2 com transmissão apenas entre indivíduos da mesma espécie, nunca para humanos. Não há dados científicos mostrando a transmissão do SARS-CoV-2 de gatos para outra espécie animal. Tal como acontece com os cães, a ocorrência de infecções naturais em gatos com SARS-CoV-2 ocorre em um contexto de alta pressão viral, através do contato próximo com seus proprietários afetados pela Covid-19.
Furões e hamsters são receptivos e sensíveis ao vírus SARS-CoV-2, com transmissão intraespécie comprovada. No entanto, nesta fase não existem dados científicos que mostrem a transmissão da SARS-CoV-2 destes animais para outras espécies, nem qualquer infecção natural.
Animais domésticos não transmitem Covid-19
Em relação ao vison, dados de infecções naturais relatados na Holanda, Dinamarca, Espanha e Estados Unidos mostram que esta espécie é receptiva e sensível ao SARS-CoV-2, com transmissão interespécies comprovada.
Eventos na Holanda, e mais recentemente na Dinamarca, apóiam a retransmissão do vírus de visons infectados para humanos, mas a ANSES enfatiza que a ocorrência desses eventos está ligada ao contexto de alta pressão viral devido à alta densidade da população animal dentro dessas fazendas de criação de visons.
Tigres, leões e pumas em cativeiro em zoológicos são espécies receptivas e sensíveis ao SARS-CoV-2, mas não transmitem o vírus para humanos. Até o momento e à luz das evidências científicas atualmente disponíveis, a agência francesa confirma que os animais domésticos e selvagens não desempenham um papel epidemiológico na manutenção e propagação da SARS-CoV-2.
// RFI