As baleias da Groenlândia emitem sons tão variados que podem ser comparados a música jazz devido ao som fluido, improvisado e complexo.
Segundo com um novo estudo, publicado nos Proceedings of the Royal Society, as Balaena mysticetus, também conhecidas como baleias da Groenlândia, emitem sons tão variados e cantos tão complexos que podem ser comparados com músicas de jazz.
Esses animais, que vivem próximo do arquipélago norueguês de Svalbard, podem ser uma espécie única entre todas as baleias e mesmo entre os mamíferos.
De acordo com a pesquisa, essas baleias polares emitem sons que podem ser tão variados como os dos pássaros canoros, ou seja, as 4 mil espécies de aves que têm órgãos vocais bastante desenvolvidos (entre elas o sabiá, o rouxinol e a andorinha).
Kate Stafford, pesquisadora na Universidade de Washington, nos EUA, e líder do estudo, explica que, “se o canto da baleia jubarte é como música clássica”, por ter uma ordem bastante clara, o da baleia da Groenlândia “é como jazz”, por ser um tipo de som fluido, improvisado e complexo.
“Ao analisarmos as gravações que fizemos ao longo de diferentes invernos, as canções não se repetem. E a cada estação, há uma série de novas canções”, explica.
Acasalamento e caça
Durante três anos de observação, o grupo de baleias produziu 184 canções únicas. As vocalizações foram detectadas em qualquer momento do dia e ao longo da maioria do inverno de cada ano, quando se dá a época de acasalamento destes animais.
“O alfabeto das baleias da Groenlândia tem milhares de letras”, disse Stafford à BBC. “Enquanto a canção de uma jubarte pode durar entre 20 a 30 minutos, uma canção de uma baleia da Groenlândia pode ter de 45 segundos a dois minutos, repetindo-a várias vezes”, explica.
Outra diferença é que, enquanto as jubarte cantam canções semelhantes ao longo de uma temporada, as baleias da Groenlândia variam o tipo de canção numa questão de horas ou dias. Esse é um fenômeno incomum, já que a maioria dos mamíferos emite sons de acasalamento específicos e repetitivos, que não variam.
No entanto, os cientistas ainda não conseguiram determinar por que há uma diversidade tão grande de melodias e se, por exemplo, esses animais cantam a mesma coisa durante toda a vida ou se muda de uma estação para outra.
Não foi possível contar o número de animais do grupo através das gravações realizadas mas trabalhos anteriores na mesma região estimam que sejam pelo menos 343 baleias.
“É um mistério que será difícil de solucionar”, afirma Stafford. “Mas ser capaz de ouvir o que ocorre sob o gelo nesse local remoto é incrível”.
Espécie ameaçada
As baleias da Groenlândia podem viver até os 200 anos e têm a habilidade de quebrar uma barreira de até meio metro de gelo. Infelizmente, sua capa de gordura é também a mais grossa entre todas as espécies de baleias, o que fez com que começassem a ser caçadas no início dos anos 1600.
A redução do número dessa espécie e as duras condições do seu habitat natural fizeram com que fossem pouco estudadas. Por outro lado, outros grupos da espécie, como as do Ártico Ocidental, são mais estudadas graças ao conhecimento acumulado pelos povos nativos do Alasca, explica Stafford.
Mas, ainda assim, sabemos “relativamente pouco” sobre a espécie, afirma. No mundo, existem apenas cerca de 10 mil baleias da Groenlândia.