Uma brasileira foi presa na semana passada na cidade de Lawrence (Massachusetts), nos Estados Unidos, enquanto fazia uma entrevista para legalizar sua situação no país e dar entrada em seu visto de residência permamente (Green Card).
Casada há um ano com um americano, ela vive ilegalmente nos EUA há 16 anos e é sócia de um salão de beleza na região metropolitana de Boston.
À BBC Brasil o advogado da brasileira afirmou que, após 45 minutos de entrevista no departamento de imigração, oficiais da Agência de Imigração e Alfândega (ICE – Immigration and Customs Enforcement, na sigla em inglês) entraram na sala com uma ordem de deportação, expedida por um juiz.
A mulher, que tem quase 40 anos e não foi identificada, foi levada para uma cadeia local, onde está presa desde quinta-feira passada.
“Eles namoravam há 8 anos e se casaram no ano passado. Ela tinha trabalho fixo e nenhum histórico de criminalidade. Estamos tentando agora conseguir uma reabertura do processo de deportação”, disse o advogado Brian Doyle, que estava presente no momento da prisão.
Em nota, a ICE informou que, no total, cinco pessoas foram presas em Lawrence, sem dar detalhes sobre a situação de cada uma delas.
Segundo a imprensa local, a brasileira já havia recebido uma ordem de deportação e não compareceu a juízo. Apesar das autoridades não considerarem como ato criminoso, o não comparecimento à audiência é uma irregularidade passível de prisão.
Ainda de acordo com o órgão, dois dos presos não tinham passagens pela policia. Os demais, tinham “múltiplas infrações de trânsito, incluindo direção com licenças suspensas”.
Histórico
A brasileira entrou nos Estados Unidos em 2001, com visto de turista. Desde então, nunca mais voltou para o Brasil.
A lei americana permite que pessoas em situação ilegal se regularizem dentro do território americano, especialmente em casos sem antecedentes criminais e de casamento com cidadãos locais.
Por outro lado, também permite que pessoas em situação irregular sejam detidas por meio de ordens de deportação expedidas por juízes, como foi o caso da brasileira.
O tema foi tratado com surpresa na imprensa local porque, historicamente, prisões como esta são pouco comuns no Estado de Massachusetts.
“Nunca vi algo parecido na minha carreira. Normalmente este dispositivo é usado contra pessoas que causam alguma ameaça à segurança nacional. Ela tem marido, três filhos e trabalho. Ao mesmo tempo, os oficiais estavam no direito de prendê-la e não podem ser acusados de abuso”, disse à BBC Brasil Doyle, que se especializou em questões ligadas a imigrantes.
O governo Obama recomendava que as autoridades de imigração permitissem que pessoas nessa situação buscassem regularização.
Susan Church, diretora do escritório local da Associação Americana de Advogados de Imigração, disse à radio W-Bur FM que a prisão reforça a mudança de postura implementada por Donald Trump na relação do governo americano com imigrantes.
“A detenção de um indivíduo nestas circunstâncias é algo definitivamente novo. O governo Obama havia instruído oficiais da ICE a não prenderem indivíduos nestas circunstâncias (em processo de legalização, sem antecedentes criminais)”, afirma Susan.
No entanto, em termos gerais, a deportação de imigrantes ilegais atingiu níveis recordes exatamente no governo de Barack Obama. Entre 2009 e 2015, cerca de 2,5 millhões de pessoas foram deportadas, número que não leva em conta as pessoas retidas quanto tentavam entrar no país.
A partir de 2014, Obama instruiu os agentes de imigração a dar prioridade a ilegais com antecedentes criminais, que em 2015 corresponderam a 91% das remoções.
Trump prometeu ações bem mais amplas, apesar de prometer também concentrar as ações no que chamou de “homens maus”.
Segundo Susan, a nova prática poderá estimular pessoas que buscam legalização a continuarem na ilegalidade. “Pessoas que são elegíveis ao green card [visto americano de residência e trabalho] e que estão fazendo o que o governo recomenda, vão ficar com medo e se manter na escuridão“, disse.
Resignação
Questionado sobre as condições da brasileira na cadeia de Suffolk County, para onde foi levada, o advogado afirmou que ela está “resignada”. “Ela é uma pessoa muito forte. É conhecida na comunidade local. Ela é bastante prática, entende sua situação, mas sofre por estar longe dos filhos e do marido”, disse.
Segundo o advogado, não há previsão para a deportação ou para um eventual cancelamento da prisão e reinício do processo de naturalização da brasileira.
A operação da ICE em Lawrence provocou debates entre parte do público americano. Opiniões distintas podem ser vistas na seção de comentários de veículos como a edição eletrônica do jornal Boston Globe, em que diversos internautas ressaltaram o fato de que os imigrantes detidos estavam em situação irregular.
“A deportação dessas pessoas foi feita a mando de um juiz. Elas conscientemente violaram as regras e agora estão sendo punidas de acordo com a lei”, escreveu um dos internautas.
Outro internauta disse estar satisfeito com a ação das autoridades imigratórias por defender que “empregos e benefícios de bem-estar social têm de ser distribuídos entre americanos e imigrantes legalmente no país”.
Ao mesmo tempo, houve quem condenasse a ação e ressaltasse o fato de que a brasileira, por exemplo, pagava impostos e gerava empregos em seu salão de beleza.
A notícia da prisão da brasileira recebeu cerca de duzentos comentários no site da W-BUR FM. Muitos internautas expressaram opinião a favor da detenção e deportação da brasileira, enquanto outros saíram em sua defesa dizendo que apesar de estar ilegal no país ela buscava a regularização.
// BBC