Cientistas descobrem por que alguns tsunamis desaparecem misteriosamente

Escavações no local dos mais antigos e potentes deslizamentos de terras submarinos levaram geólogos noruegueses a descobrir a razão pela qual alguns poderosíssimos cataclismos submarinos acabam não provocando tsunamis gigantes.

“O mecanismo e a natureza dos tsunamis estão ainda pouco estudados. Uma catástrofe igual à de Fukushima nos faz pensar sobre as forças que geram as ondas gigantes e por que esses fenômenos nem sempre causam poderosas inundações”, segundo explica o geólogo Finn Lovholt e seus colegas do Instituto Geotécnico da Noruega em Oslo.

A descoberta foi avançada num artigo publicado na revista Geophysical Research Letters.

De acordo com os cientistas, há atualmente dois mecanismos principais que originam tsunamis: os terremotos fortíssimos no fundo do oceano, como os que causaram as cheias de 2004 e 2011 na Indonésia e no Japão, e os deslizamentos de terras enormes, um dos quais, o Storegga, teria provocado um dos maiores dilúvios na história.

O Storegga, que ocorreu há cerca de 8 mil anos, teria sido causada por um deslizamento fortíssimo no fundo do Oceano Atlântico. Ele provocou cheias gigantescas próximo às costas de toda a Escandinávia e da Grã-Bretanha, e deveria ter causado um colapso da população paleolítica local.

A forma como os tsunamis surgem durante os terremotos está bastante estudada pelos geólogos, contudo o papel dos deslizamentos nesse processo está ainda muito pouco estudado. A título de exemplo, Lovholt indica um outro deslizamento forte que se deu há aproximadamente 6 mil anos, o Trenadjupet, que não chegou a causar efeitos visíveis.

O problema é que de momento os cientistas não conseguem explicar completamente por que as grandes camadas de solo no fundo do mar começam deslizando pelos seus declives, perdendo a estabilidade.

A razão para tal pode ser tanto a mudança das correntes, quanto a flutuação das temperaturas, além de explosões submarinas de metano, cujas moléculas vêm se acumulando no permafrost no fundo do mar da Noruega.

Lovholt e seus colegas encontraram a resposta à última pergunta após terem analisado amostras dos estratos de rocha formados pelos dois deslizamentos, o Sturegga (do tipo “terremotos fortíssimos no fundo do oceano”) e o Trenadjupet (do tipo “deslizamentos de terra enormes”).

Conforme os cálculos feitos através de modelagem por computador, o deslizamento de lama se deslocava de modo totalmente diferente em cada um dos casos.

Sturegga, o deslizamento mais antigo, conseguiu gerar um tsunami por seus estratos de rocha terem desmoronado quase simultaneamente, para o fundo do oceano, com a velocidade de 35 metros por segundo.

Consequentemente, se deslocaram quase três mil quilômetros cúbicos de solo submarino, o que provocou uma onda potente, cujos vestígios foram encontrados na Escócia a 80 km da costa marinha.

O caso de Trenadjupet foi diferente – aconteceu uma série de várias dezenas de desmoronamentos separados, cada um dos quais ia provocando um deslizamento ainda maior do que o anterior.

De acordo com os cálculos, a magnitude de um tsunami causado por deslizamentos depende não do tamanho do deslizamento, mas do relevo do fundo do mar, cuja forma pode causar um complexo “deslizamento retrogressivo” das camadas geológicas – que, em alguns casos, elimina o efeito do tsunami.

O estudo dos cientistas noruegueses, que estudou vários modelos de deslizamentos submarinos com esse efeito “retrogressivo”, mostrou que o principal fator que importa estudar no futuro para se fazer uma projeção da magnitude dos tsunamis e construir proteções não é a magnitude dos deslizamentos, mas o relevo do fundo do mar.

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