Egito reabre museu dedicado a um dos generais nazistas favoritos de Hitler

Marion Doss / Flickr

Erwin Rommel, um dos generais favoritos de Hiter, ao centro de cachecol, em novembro de 1941

Erwin Rommel era um dos oficiais nazistas favoritos de Hitler e sua carreira e as lendas ao seu redor inspiraram muitos livros e filmes. Rommel planejou conquistar o norte da África a partir de uma gruta no Egito e perdeu. Agora, o país reabriu o museu em sua homenagem.

O museu está instalado no exato local de onde Erwin Rommel comandou o corpo expedicionário alemão enviado para o norte da África – o Afrika Korps – com o objetivo de ajudar as tropas de Mussolini a conter o avanço dos britânicos no território: uma caverna do tempo dos romanos em uma colina de Marsa Matruh, cidade turística à beira do Mediterrâneo, a 500 quilômetros do Cairo.

Agora, foi reaberto pelo 75º aniversário das batalhas de El Alamein, que ditaram o princípio do fim do Eixo na África, cenário de guerra em que este general, um dos favoritos de Hitler, cimentou definitivamente sua popularidade e ganhou o “codinome” pelo qual ficaria conhecido graças aos seus audaciosos ataques surpresa – Raposa do Deserto.

Segundo o Público, que cita o El Mundo, o ministro das Antiguidades egípcio, Khaled al Anani, disse que este era “um ato cheio de simbolismo”, evocando o aniversário e o fato de a gruta ter estado fechada boa parte da última década.

A caverna era usada pelos romanos para armazenar cereais e que agora guarda artefatos militares e objetos pessoais do homem que Hitler nomeou marechal de campo e depois o forçou ao suicídio. O material exposto, esclarece Al Anani, “foi cedido pela família Rommel, pela polícia local e pelo Ministério das Antiguidades”.

O herói que duvidava de Hitler

Quando estava no terreno, perante as dificuldades crescentes no abastecimento e a exaustão que afetava há muito os soldados ali deslocados, Rommel, que obtivera vitórias importantes no norte da África, pediu a Berlim que autorizasse a retirada das tropas.

Em vez de aceitar o pedido, Hitler deu ordens para que atacassem o Cairo e o Canal de Suez no verão de 1942, o que levou os britânicos a travar as forças italo-alemãs em El Alamein, em combates duríssimos. O Führer acabou determinando que voltassem para casa em março do ano seguinte.

Rommel foi então mandado para a França, com a tarefa de proteger a linha costeira. Mas Hitler e outros oficiais discordaram de seus planos, ignorando, por exemplo, quando o general defendeu um ataque aliado, muito provavelmente, tendo as praias da Normandia como entrada.

Perante isto, Rommel começou a duvidar do discernimento de Hitler e da sua capacidade para estabelecer um acordo com as potências aliadas. Depois dos desembarques da Normandia, em junho de 1944, chegou a dizer ao líder do III Reich que a guerra estava perdida e que era preciso encontrar uma solução para a paz.

Conhecedora da sua opinião, a oposição a Hitler, clandestina, naturalmente, propôs ao general que assumisse o cargo que pertencia ao ditador nazista na eventualidade de ele ser deposto, mas sem nunca revelar que tencionava assassiná-lo.

Rommel, conta a História, não rejeitou a proposta, mas nunca teria concordado com tal plano – executar alguém por motivos políticos era algo que nunca aceitara, nem às ordens de Hitler.

Em julho de 1944, o carro onde seguia foi atingido durante um bombardeio aéreo, o que lhe provocou graves ferimentos na cabeça. Estava ainda se recuperando em casa quando dois oficiais bateram na sua porta.

Acusado de conspirar para matar o Führer – alegavam que ele tinha sido cúmplice da tentativa de homicídio falha de Von Stauffenberg, em 20 de julho. Os militares lhe deram as seguintes opções: um julgamento público, com a pena de morte como desfecho certo e a sua família enviada para um campo de prisioneiros; e um suicídio discreto com a garantia de que sua mulher e seu filho não seriam perseguidos.

Desta vez sem surpresas, Rommel escolheu a segunda hipótese, sem deixar claro que papel tivera no golpe contra Hitler. Tomou veneno e foi enterrado com todas as honrarias militares.

Foi Manfred, o filho que na altura tinha 15 anos, que doou boa parte dos objetos pessoais que agora podem ser vistos no museu renovado no Egito. Em 2011, ele falou sobre a última e breve conversa com o pai, antes de Rommel entrar no carro com os dois oficiais que deveriam levá-lo a Berlim: “Estarei morto dentro de 15 minutos“, disse o pai, antes de se despedir.

The Desert Fox, filme de 1951 dirigido por Henry Hathaway, é baseado precisamente nestes conturbados últimos meses do general que os aliados temiam e, aparentemente, respeitavam. Passados poucos mais de cinco anos do fim do conflito, foi retratado, em parte, como um herói.

Erwin Rommel foi, além de um militar brilhante, uma figura no mínimo controversa, mas isso não parece inquietar os egípcios. Não há vestígios de qualquer desconforto nas notícias dos meios de comunicação regionais em língua inglesa sobre a reinauguração deste museu dedicado a um general que esteve entre os eleitos de Hitler.

// ZAP

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1 COMENTÁRIO

  1. Faltou dizer que Rommel odiava os nazistas, tanto é que nunca fez o cumprimento nazista, e no começo achava que Hitler estava sendo enganado por eles. Mais tarde, descobriu que Hitler não só sabia dos atos dos nazistas mas tb era o mandante. Tb achava (corretamente) que a guerra estava perdida e que a Alemanha tinha que se render e Hitler removido, embora até onde se sabe não tenha participado do atentado contra ele.

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