Tendo em conta as alterações nas temperaturas que estão ocorrendo, os climatologistas preveem: até o verão de 2050, o Ártico pode ficar sem gelo.
Enquanto a Europa treme de frio, o Polo Norte conhece um pico de calor com temperaturas 30 graus acima da normal para a época – um fenômeno excepcional que ocorre no contexto de aquecimento do Ártico.
O termômetro atingiu os 35ºC negativos em algumas regiões do centro da Federação Russa no domingo, 12ºC negativos na Polônia e ainda 10ºC negativos no leste da França. Durante esse tempo, o Polo Norte, mergulhado na escuridão permanente da noite polar, registrava temperaturas positivas graças a ondas de ar ameno.
Existe “uma situação de bloqueio anticiclônico no norte da Escandinávia com uma subida de ar ameno da Islândia para o Polo Norte de um lado e o anticiclone do outro, descida de ar frio do Ural e da Rússia ocidental para a Europa ocidental”, disse à AFP um meteorologista da Meteo-France, Etienne Kapikian.
Em resultado, “estima-se que ao nível do Polo Norte são zero graus“, indicou Kapikian, segundo estimativas feitas com modelização, porque não há estação meteorológica instalada no local.
Para ter uma medida mais precisa, é preciso ir ao extremo norte da Groenlândia, “onde se registraram 6,2ºC no domingo”, acrescentou Kapikian. “É um valor excepcional, cerca de 30ºC acima do que é normal para a época, até 35ºC dada essa medida tão precisa”.
É um episódio excepcional? Sim, mas nem tanto, respondem os cientistas.
“Temperaturas positivas no Polo Norte no inverno foram registradas quatro vezes entre 1980 e 2010. Mas agora ocorreram em quatro dos últimos cinco invernos”, disse à AFP o climatologista Robert Graham, do Instituto Polar Norueguês.
“Tivemos um inverno excepcional no Ártico, o precedente também já tinha sido e não arriscamos muito se dissermos que o próximo também será. É o aquecimento do Ártico”, reforçou Etienne Kapikian.
Podemos atribuir a situação às mudanças climáticas? “É difícil dizer que um acontecimento está ligado ao aquecimento global. Mas a tendência que observamos, um Ártico quente, um continente frio, pode estar ligada às mudanças climáticas“, respondeu Marlene Kretschmer, climatologista no Instituto de Potsdam.
Esses episódios de subida das temperaturas não são uma boa notícia para o gelo do Ártico, cuja superfície nunca foi tão reduzida nessa época desde o início dos registros, há mais de 50 anos.
Em torno do arquipélago norueguês de Svalbard, a leste da Groenlândia, a superfície de gelo medida na segunda-feira (26) era de 205.727 quilômetros quadrados, ou seja menos de metade da superfície média do período 1981-2010, segundo os registros noruegueses.
Ciberia // ZAP