Os três túneis encontrados ontem (22) e hoje (23) de manhã em Alcaçuz, Rio Grande do Norte, já foram fechados pela equipe do presídio.
De acordo com a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), não há registro oficial de fugas, mas, como os presos estão livres no interior da unidade, só é possível ter a certeza com a recontagem da população carcerária.
Os túneis foram encontrados por agentes penitenciários e pela Força Nacional e Polícia Militar (PM) em uma ronda externa. De acordo com a assessoria de comunicação da Sejuc, todos estavam tampados com terra pelo lado de fora. Com a chuva de ontem na região, o solo cedeu e exibiu os buracos.
Dois deles partiam da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, controlado pelo Sindicato do Crime do RN, e foram fechados ontem mesmo. O terceiro túnel saía da área administrativa do Presídio Rogério Coutinho Madruga, chamado de Pavilhão 5, já que também fica em Alcaçuz. É o lado em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) exerce o controle.
A Sejuc alega que não há vestígios de que os túneis tenham sido usados. Porém, como a contagem de presos não é possível porque os detentos estão livres dentro do presídio, não se pode dizer com certeza que a fuga não ocorreu.
A Sejuc informou ainda que a segunda fileira de contêineres do muro que separa as duas facções não foi instalada no sábado, como divulgado pelo comando da Polícia Militar (PM), porque a máquina que iça os blocos quebrou. A previsão é que a operação seja finalizada assim que o equipamento for consertado.
A assessoria de comunicação informou também que os módulos de concreto armado que formarão o muro definitivo já estão sendo construídos. Ainda não há previsão para o início dessa instalação.
Hoje de manhã, no telhado do presídio, era possível acompanhar a movimentação de presos fazendo reparos e recolocando telhas para recobrir um dos pavilhões.
Vídeo mostra presos queimando corpos em fogueiras
A Agência Brasil teve acesso a dois vídeos em que presos da penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, dizem estar queimando partes de corpos humanos em fogueiras para consumo com os rivais. O governo reconhece que as imagens foram feitas no presídio, mas afirma que não tem registro desse tipo de crime, apesar de denúncias informais de canibalismo feitas por familiares de detentos à imprensa.
A penitenciária vive uma guerra entre duas facções rivais desde o dia 14 de janeiro, quando pelo menos 26 presos foram assassinados brutalmente e boa parte da penitenciária passou a ser controlada pelos detentos. Até agora, as forças policiais controlam a área externa de Alcaçuz e fazem intervenções pontuais no local para realizar buscas por corpos e construir um muro de contêineres que separa os pavilhões controlados pelos grupos rivais.
Em um dos vídeos, um preso aparece queimando pedaços de carnes e pele que eles dizem na imagem ser de corpo humano, espetadas em um vergalhão. Um deles avisa: “Churrasco de PCC“. Em seguida, a câmera se volta aos detentos, que não têm receio de mostrar o rosto. Eles informam que são do Pavilhão 2, controlado pelo Sindicato do Crime do RN, e estão vingando mortes ocorridas no Pavilhão 4, supostamente cometidas por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Eles parecem se dirigir diretamente aos rivais, enviando recados de vinganças e retaliação.
Em outro vídeo, um antebraço é colocado no espeto enquanto um preso narra os acontecimentos: “estamos aqui em mais um dia de guerra na penitenciária de Alcaçuz“, começa a narração, enquanto outros espetam a carne com facões. Ao fundo, dezenas de detentos se aproximam e o que parece ser um corpo mutilado é arrastado, amarrado com um lençol. “Vai tocar fogo agora. Essa é a realidade”, volta a dizer o narrador.
As esposas de detentos que fazem vigília na porta do presídio já tinham informado à reportagem que receberam notícias sobre suposto canibalismo na unidade, mas nenhum indício havia sido divulgado. Em ambos os vídeos não é exibida qualquer cena em que os presos de fato comam os pedaços.
A fogueira utilizada para assar os corpos no pátio da penitenciária já havia sido citada pelo diretor do Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep), Marcos Brandão. Ele informou, por telefone, que várias delas foram encontradas na área. “Ainda vamos examinar se nessas fogueiras há algum material humano, porque lá realmente não deu para verificar. Recolhemos um material que vamos analisar para saber se é corpo. A gente ainda vai analisar, não estou dizendo nada conclusivo”, disse, ontem.
A assessoria de comunicação da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) do Rio Grande do Norte confirmou que as imagens foram feitas na penitenciária de Alcaçuz, “certamente na primeira rebelião“, ocorrida no dia 14 de janeiro. O órgão informou ainda que duas buscas já foram realizadas no interior do presídio em busca de mortos, e que não há registro de canibalismo.
“Como os equipamentos de bloqueio de sinal de celular foram danificados na rebelião, os rebelados usam informações, via celular, para aterrorizar a população. Os equipamentos serão restabelecidos tão logo haja condições para garantir o trabalho dos técnicos”, informa a nota enviada à Agência Brasil.