O governo do presidente francês, Emmanuel Macron, vai quebrar um tabu e anunciar nesta quarta-feira a instauração de cotas de imigrantes que serão bem-vindos ao país para atuar em setores onde falta mão de obra.
A informação é antecipada hoje pelo jornal Le Parisien, que detalha os critérios de abertura do mercado de trabalho francês aos estrangeiros, além de medidas para endurecer a imigração ilegal.
Uma vez por ano, o governo francês vai publicar uma lista de profissões requisitadas por empresas que não encontram pessoal qualificado no mercado nacional. Há 15 anos, a França debate a questão, mas como o tema sempre foi instrumentalizado pelos partidos políticos, principalmente de extrema direita, o receio de adotar um programa de mao de obra estrangeira organizado pelo Estado acabou preterido.
Macron adota a medida de olho na corrida eleitoral de 2022, mas também sob pressão de setores da economia que necessitam de trabalhadores de nível técnico e superior e não dispõem dos instrumentos legais para atrair esses profissionais.
A criação de cotas de trabalhadores estrangeiros foi cogitada no passado pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy.
O partido conservador Os Republicanos é favorável à medida, desde que em contrapartida o governo reduza a cobertura médica do Estado (AME) para imigrantes em situação irregular e não conceda asilo a pessoas vindas de países em situação de normalidade democrática.
Um dos casos citados pela direita como exemplo a ser melhor controlado é o da Geórgia. Os pedidos de asilo de georgianos aumentaram 86%, sem que o país enfrente atualmente um conflito que justifique a fuga para o estrangeiro.
Procuram-se veterinário, topógrafo, mecânico, funileiro
O diário Le Parisien publica uma lista de dez profissões altamente procuradas na França, entre elas veterinários, topógrafos, funileiros, carpinteiros, mecânicos de carros – elétricos em particular –, desenhistas de instalações elétricas e trabalhadores domésticos. Essas profissões, provavelmente, serão abertas para estrangeiros, mas a criação de cotas não é consensual.
Segundo dados da agência de empregos Pôle Emploi, 150.000 vagas não são preenchidas atualmente no país pela falta de colaboradores qualificados. A metade das empresas francesas sofre com essa penúria.
Enquanto muitos economistas defendem o projeto de Macron, alegando que a França só consegue formar 60.000 engenheiros por ano, quando o país precisa atualmente de 80.000 a 90.000 profissionais, sobretudo na área de tecnologia digital e informática, outros preferem que o governo invista na qualificação dos desempregados.
É o caso do presidente da Federação Francesa da Construção Civil, Jacques Chanut. Ele é contra a adoção de cotas para trabalhadores estrangeiros e queria ver o governo empenhado em preparar os franceses pouco qualificados para ingressarem no mercado.
O empresário alega que na construção civil, por exemplo, é fundamental um bom conhecimento do idioma por uma questão de segurança nas obras. Mas, curiosamente, este é um setor onde trabalham muitos portugueses e brasileiros que se instalam na França.
Em seu editorial, Le Parisien afirma que Macron não quer deixar o debate sobre a imigração para seus adversários, principalmente para a líder da extrema direita, Marine Le Pen.
O jornal lembra que as cotas para trabalhadores estrangeiros são defendidas pela direita há vários anos e parecem uma medida de bom senso. Macron corre o risco de ser criticado e também de decepcionar uma parte do eleitorado, porque, para exercer um controle sobre a imigração econômica, o presidente promete aumentar as expulsões de ilegais.
O sistema de cotas deve entrar em vigor em 2021.
// RFI