Os genes que contribuíram para a construção dos crânios ligeiramente alongados do parente humano extinto ainda poderiam estar em ação em alguns seres humanos modernos, afetando o desenvolvimento neurológico.
Longe de terem “cérebros de ervilha”, os neandertais tinham crânios alongados, cheios de substância cinzenta – mais do que os nossos próprios ancestrais imediatos. Isso não faz deles gênios. Mas levanta algumas questões sobre como e por que nossos próprios cérebros evoluíram para cérebros redondos, em comparação.
A geneticista e neurologista Amanda Tilot, do Instituto Max Planck de Psico-linguística, recentemente liderou um estudo, no qual investigou o mistério dos cérebros humanos, em busca de genes neandertais ainda em circulação.
“Nosso objetivo foi identificar potenciais genes candidatos e vias biológicas relacionadas à forma de globo do cérebro”, disse Tilot, que publicou o estudo em 13 de dezembro na Current Biology.
Dado que o interior das cabeças de Neandertal apodreceram, só se consegue adivinhar como eram seus cérebros, com recurso aos moldes da área oca dentro dos crânios fossilizados.
Ao comparar os modelos com aqueles feitos de crânios humanos modernos, podemos ver mais do que diferenças em volume e proporções médias. Estudos anteriores identificaram alguns contrastes bastante significativos nos tamanhos do cerebelo.
Dados de estudos anteriores foram usados para mostrar que também pode haver grandes diferenças no córtex pré-frontal e nos lobos occipital e temporal.
“Nós capturamos variações sutis na forma endocraniana que provavelmente refletem mudanças no volume e conectividade de certas áreas do cérebro”, explicou o paleoantropólogo do Instituto Max Planck de Antropologia, Philipp Gunz, que liderou a pesquisa com Tilot.
A evolução humana pode ser localizada há cerca de 300 mil anos no continente africano, onde diversas populações humanas espalhadas pela terra trocaram características que agora se considera como sendo o Homo sapiens. Os ancestrais diretos das populações neandertais se afastaram um pouco mais cedo, separando-se da árvore genealógica compartilhada cerca de 400 mil a 800 mil anos atrás.
Isso significa que os corpos representam um conjunto de modificações únicas de um modelo ligeiramente mais antigo de caixa cerebral. Comparar os crânios com os deles poderia, portanto, sugerir movimentos evolutivos que moldaram os cérebros humanos.
Os neandertais e nossos ancestrais diretos nem sempre se mantiveram no próprio ramo da árvore genealógica, trocando genes através de cruzamentos frequentes. O legado dessa mistura genética persiste até hoje, com cerca de 1% dos nossos genes tendo origem em populações neandertais.
Os pesquisadores reuniram informações genéticas e dados de ressonância magnética em cerca de 4.500 indivíduos com ascendência europeia, criando um banco de dados de medições de crânio e genomas.
Comparado às duas listas de dados levou a equipe a identificar, no cromossomo 1 e 18, um par de fragmentos de código genético de Neandertal conhecidos que parecem determinar a forma do crânio.
Um deles é influenciado pelo gene UBR4, que está envolvido na geração de novas células cerebrais. O segundo afeta a função do gene PHLPP1, relaciona-se com neurônios isolantes no que é conhecido como bainha de mielina.
Ambas as regiões desempenham um papel fundamental na aprendizagem e coordenação do movimento. Ter esses genes não significa que esses humanos pensem como neandertais. Sua influência é muito sutil para ser detectada a nível individual.
Ciberia // ZAP