Aterrorizados pela repressão da junta militar e pela propagação do coronavírus, poucos birmaneses se atreviam a ir às ruas para protestar neste domingo (1º), quando completam-se seis meses do golpe de Estado que mergulhou o país no caos. O chefe da junta, Min Aung Hlaing, prometeu novas eleições nos próximos dois anos, “até agosto de 2023 “.
Há uma semana, o militar anulou o resultado das eleições legislativas de 2020, vencidas por esmagadora maioria pelo partido de Aung San Suu Kyi. “Trabalhamos para estabelecer um sistema multipartidário democrático”, afirmou o general, enquanto Suu Kyi, de 76 anos, inicia o sétimo mês em prisão domiciliar, depois de ser deposta do poder, em fevereiro.
Em seis meses, 940 civis morreram nas mãos das forças de segurança, 75 deles menores, centenas despareceram e mais de 5.400 estão detidos, segundo uma ONG. Nas redes sociais, jovens opositores prometem derrubar o regime. “Prometo combater esta ditadura enquanto viver”, “Não vamos nos ajoelhar sob as botas dos militares“, afirmaram, fazendo o gesto simbólico de três dedos em sinal de resistência.
Em Kaley, no oeste do país, houve uma manifestação em homenagem aos presos políticos. “As canções dos detidos são uma força para a revolução”, dizia um cartaz.
No entanto, a maioria dos birmaneses permaneceu trancada em suas casas, preocupados com a violência das forças de segurança e a propagação do coronavírus.
Governo “usa Covid como arma”
O Reino Unido, ex-potência colonial, alertou a ONU que metade da população de Mianmar – cerca de 27 milhões de pessoas – poderia se infectar com a Covid-19 nas próximas duas semanas. Londres classificou a situação de “desesperada” e pediu ao Conselho de Segurança que aja para permitir a distribuição de vacinas no país.
A ONU estima que apenas 40% dos estabelecimentos sanitários birmaneses funcionam, já que grande parte dos profissionais da saúde ainda está em greve, em protesto contra o golpe. Alguns membros da equipe de saúde são alvo de ordens de prisão, fogem ou já foram presos.
O Exército birmanês “usa a covid-19 como arma contra a população“, declarou recentemente Susanna Hla Hla Soe, do governo de unidade nacional, criado por opositores clandestinamente.
Resistência armada
Apesar da firmeza do regime, a resistência segue adiante. As grandes manifestações pacíficas geraram uma resposta armada liderada por milícias cidadãs, as Forças de Defesa do Povo (PDF). Esses movimentos são independentes entre si, para manter o maior número possível de frentes abertas.
Os grupos desestabilizam a junta no plano militar, mas ela ainda mantém o controle no econômico, ao administrar muitas empresas, desde a cerveja até as pedras preciosas, e recuperar o controle do gás natural. A fonte energética representa uma renda anual de cerca de US$ 1 bilhão.
As sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pelo Reino Unido não intimidaram os generais, protegidos por seus aliados: China e Rússia.
// RFI