Incentivos não vão faltar para quem estava com saudades de frequentar bares, pubs e restaurantes no Reino Unido. Durante o mês de agosto, o governo britânico vai bancar parte da conta de quem sair para comer fora de segunda à quarta-feira.
Trata-se de mais uma iniciativa inédita deste governo para evitar o pior. A ideia é garantir o emprego de quase 2 milhões de pessoas que trabalham neste que é um dos setores mais afetados pela pandemia do novo coronavírus.
Não bastassem os quatro meses em que estes estabelecimentos tiveram de permanecer de portas fechadas, ao reabrir, muitos reduziram o número de mesas para garantir o distanciamento social previsto em lei, além de investirem em outras medidas de proteção para os clientes. A novidade começou a valer nesta semana.
O benefício está sendo concedido na forma de descontos de 50% na conta dos clientes dos cerca de 72 mil estabelecimentos que se inscreveram no programa do governo. O valor do incentivo é de no máximo £ 10 por pessoa (cerca de R$ 70) e não cobre o consumo de bebidas alcoólicas.
Mas certamente será uma ajuda e tanto para quem não pode se dar ao luxo de gastar com supérfluos. E restaurantes, pubs e bares, a esta altura, não estão na lista de prioridades dos britânicos. Sem saber quando essa crise vai acabar, muita gente evita gastos desnecessários. Até porque muitos estão sem trabalhar, vivendo, em boa medida, da ajuda do governo. O Reino Unido está pagando até 80% dos salários de boa parte dos trabalhadores em todo o país.
Os pacotes de estímulo econômico já somam mais de £1 trilhão (quase R$ 7 trilhões). Tudo isso vindo de um governo conservador, que sempre pregou a austeridade fiscal. Estima-se uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de quase 20% para este ano no país.
Mas os esforços bilionários adotados até agora pela equipe do primeiro-ministro Boris Johnson para reativar a economia podem estar a perigo. Como em toda a Europa, no Reino Unido não se fala em outra coisa que não seja a ameaça de uma segunda onda de contaminações pelo novo coronavírus. E elas estão crescendo.
Os índices de contaminação pelo novo coronavírus passaram para 4.200 novos casos por dia, contra 3.200 da semana anterior, o que acendeu a luz amarela.
O temor da segunda onda
O grande temor de uma segunda onda de infecções levou o premiê britânico a pisar no freio na semana passada, e ele resolveu adiar o processo de reabertura das atividades econômicas em pelo menos duas semanas: cassinos, boliches, ringues de patinação e salas de convenções não puderam retomar as atividades.
Os salões para tratamentos estéticos, o que exige proximidade extrema com os clientes, também permanecem de portas fechadas. E as cerimônias de casamento só podem ser realizadas com até 30 pessoas.
O ministro da Saúde, Matt Hancock, disse que o governo não pôde avançar mais nas medidas de relaxamento porque a população não está respeitando as regras de convivência do novo normal. As praias, por exemplo, estavam lotadas no último fim semana.
Algumas cidades e regiões do país voltaram a ser submetidas ao lockdown, como Manchester, Lancashire e parte de Yorkshire. Trata-se de um confinamento seletivo, em locais onde foram registrados indicadores muito acima da média nacional. Mas a medida atinge pelo menos 5 milhões de pessoas. Ou seja, antes mesmo de conseguir retomar, pelo menos em parte, a vida normal, o Reino Unido precisou voltar a se fechar.
O primeiro-ministro Boris Johnson admitiu recentemente que a vida não voltaria ao normal antes do Natal, e já tinha avisado que não hesitaria em segurar o processo de reabertura, se necessário. Mas a verdade é que a insatisfação da população é grande.
Na semana passada, em função de novas contaminações pela Europa, o governo anunciou, mais uma vez, a imposição de quarentena de 14 dias para quem entrasse no país vindo da Espanha e de Luxemburgo. A medida pegou de surpresa britânicos que estavam de férias nesses países. As restrições podem ser ampliadas para outras nações, como a França.
A situação de Boris Johnson se complica. Ninguém mais aguenta o confinamento, e ele sabe disso. O Reino Unido foi o país da Europa que mais registrou mortes pela Covid-19 até agora. O governo tem sido criticado desde início da pandemia por demorar demais a anunciar o confinamento. Esta é uma das razões para redobrar a atenção neste momento.
Em Londres, museus começaram a reabrir. Mas teatros, não. A capital pode ter que fechar de novo, se os números de casos voltarem a subir. O prefeito Sadia Khan se disse surpreso com essa possibilidade aventada pelo governo. O fato é que, enquanto não houver uma vacina, não há muito o que se possa fazer. O novo coronavírus mudou a vida de uma capitais mais vibrantes da Europa.
// RFI