Autoridades confirmam ao menos 20 infecções, todas sem sintomas. Exames foram feitos após uma mulher que deu à luz ter testado positivo para o novo coronavírus no hospital.
A Grécia colocou em quarentena o campo de refugiados de Ritsona, a cerca de 75 quilômetros de Atenas, depois de 20 requerentes de refúgio terem testado positivo para o novo coronavírus, comunicou o Ministério grego de Migração nesta quinta-feira (02/04).
A entrada e a saída de pessoas do campo ficará restrita pelos próximos 14 dias. A polícia vai monitorar a implementação das medidas. O campo dispõe de uma área de isolamento para pacientes com coronavírus, disseram autoridades.
Segundo o ministério, cerca de duas mil pessoas vivem no campo de Ritsona, em contêineres organizados em três setores. Além disso, cerca de 140 pessoas trabalham no local.
Os testes foram realizados depois de uma mulher de 19 anos ter sido levada para um hospital de Atenas para dar à luz, no sábado passado, e apresentar sintomas de infecção pelo novo coronavírus. Ela foi o primeiro caso registrado entre os milhares de requerentes de refúgio que vivem em campos superlotados em todo o país.
Nenhuma das demais 20 pessoas que testaram positivo no campo apresenta sintomas de covid-19, afirmou o ministério, que vai continuar com os testes.
No momento, a principal questão para as autoridades gregas é se a infecção ocorreu no campo de Ritsona ou no hospital onde a mulher deu à luz. “Tanto seu parceiro quanto um amigo da família foram testados e deram negativo. Portanto, não se sabe se a mulher foi infectada no campo ou no hospital”, disse um porta-voz do Ministério de Migração à agência de notícias Efe.
Desde que o primeiro caso de covid-19 na Grécia foi declarado, no fim de fevereiro, organizações humanitárias e de direitos humanos, bem como autoridades europeias, solicitaram a evacuação dos campos de refugiados superlotados em todo o país, com especial destaque para os das ilhas do Egeu.
O país, que vive em confinamento total há mais de uma semana, conta 50 mortes por coronavírus e 1.415 infectados.
Mais de 40 mil solicitantes de refúgio vivem em campos superlotados nas ilhas gregas, em condições que o próprio governo grego descreveu como uma “bomba-relógio da saúde”.
O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis disse que a Grécia está pronta para proteger suas ilhas, onde nenhum caso foi registrado até agora, mas instou a União Europeia a fornecer mais ajuda.
“As condições estão longe de serem ideais, mas devo destacar também que a Grécia está lidando com esse problema basicamente por conta própria. Não tivemos o apoio da União Europeia como desejávamos”, disse Mitsotakis à emissora americana CNN.
Segundo análise da ONG americana Comitê Internacional de Resgate (IRC, na sigla em inglês), as taxas de transmissão do novo coronavírus em alguns dos campos mais lotados do mundo podem superar as que foram observadas na quarentena de dois meses no navio Diamond Princess na costa do Japão. A transmissão do vírus no Diamond Princess foi quatro vezes mais rápida do que o registrado no auge do surto na província chinesa de Wuhan, afirmou a IRC.
A ONG citou três campos nos quais a densidade populacional é superior à proporção de 24,4 mil pessoas por quilômetro quadrado do Diamond Princess: Cox’s Bazar, um porto de Bangladesh com refugiados da etnia rohingya, numa proporção de 40 mil pessoas por quilômetro quadrado; Al-Hol, um acampamento no nordeste da Síria que abriga famílias de jihadistas do “Estado Islâmico”, com proporção de 37.570 pessoas por quilômetro quadrado; e Moria, campo de cerca de 20 mil pessoas na ilha grega de Lesbos, com proporção de 203,8 mil pessoas por quilômetro quadrado.
A IRC afirmou que, com financiamento adequado, algumas medidas podem ser tomadas para mitigar o risco nesses campos superlotados, como o aumento do acesso à água corrente, identificação de áreas de isolamento e construção de novos abrigos para possibilitar o distanciamento social.