Jamal Khashoggi, o jornalista saudita desaparecido desde 2 de outubro, teria sido torturado durante sete minutos e desmembrado ainda vivo no interior do consulado da Arábia Saudita, em Istambul, revela a imprensa turca.
O jornal turco pró-governamental Yeni Safak fez, nesta quinta-feira (18), novas revelações sobre o conteúdo das supostas gravações captadas no interior do consulado em Istambul, onde o jornalista saudita teria sido morto. Já na semana passada, as autoridades turcas diziam ter em posse gravações de áudio e vídeo que provavam o assassinato.
De acordo com a reportagem agora divulgada, Jamal teria sido torturado e decapitado por agentes sauditas. O texto conta ainda detalhes mais mórbidos, revelando que o jornalista teria sido torturado durante sete minutos, tendo o seu corpo sido desmembrado enquanto o repórter ainda estava vivo.
Segundo a mesma publicação, na gravação é possível ouvir o Cônsul Geral saudita, Mohammed al-Otaibi, dizer aos supostos torturadores de Khashoggi: “Façam isso lá fora, vão me arranjar problemas”, ao que os supostos torturadores teriam respondido: “Fique calado se quiser viver quando voltar à Arábia Saudita”.
A reportagem vem agora reforçar a pressão sobre a Arábia Saudita para que explique o que aconteceu ao jornalista, crítico do regime de Ríade e que vivia exilado nos Estados Unidos desde 2017.
O desaparecimento do jornalista saudita, que foi ao consulado para tratar de documentação para seu casamento, continua sem uma justificativa por parte das autoridades e as questões continuam a se adensar.
Suspeito morre em acidente de carro
De acordo com a EFE, um dos 15 homens que estavam no consulado onde Jamal foi visto pela última vez – e, por isso, um dos suspeitos – morreu em um misterioso acidente de carro. A notícia foi divulgada pelo Yeni Safak, sem citar qualquer fonte.
O homem foi identificado pelo jornal como Meshaal Saad M. Albostani, um oficial da Força Aérea da Arábia Saudita nascido em 1987.
De acordo com a publicação, existem “rumores de que Albostani pode ter sido silenciado“, tendo sido morto por esse motivo. O Yeni Safak acrescenta ainda que “não há nenhuma informação sobre os detalhes do acidente que causou a morte de Albostani”.
Segundo a imprensa turca, o saudita chegou à Turquia na madrugada de 2 de outubro, por volta da 1h45 no horário local, onde se hospedou num hotel. Albostani teria deixado o país no mesmo dia, ainda durante a noite, em um avião particular.
O El Mundo, que cita também a mídia turca, identifica outro dos quinzes suspeitos, Salah Mohamed Tubaiqi, que supostamente teria realizado o esquartejamento do jornalista saudita. O jornal revela que Tubaiqi é um funcionário saudita especializado em análise forense e medicina legal, tendo já desempenhado vários cargos nessa área para departamentos do regime saudita.
Assim como Albostani, Tubaiqi chegou à Turquia durante a madrugada do dia 2 de outubro em um avião particular e se hospedou num hotel. De acordo com fontes policiais citadas pelo New York Times, Tubaiqi levava uma serra quando deixou o país no mesmo dia.
O diário espanhol nota ainda que, em entrevista dada há quatro anos ao jornal Asharaq al Awsat, Tubaiqi se gabou de fazer uma autópsia em apenas sete minutos. O saudita falava ao jornal sobre a morte de alguns peregrinos durante sua jornada a Meca.
De acordo com o Middle East Eye, citado pelo El Mundo, o artigo em questão mencionava uma clínica móvel projetada pelo próprio Tubaiqi para usar em “casos de segurança que exigissem a intervenção de um patologista para realizar uma autópsia ou ainda para examinar um corpo na cena do crime”.
Trump admite morte de Jamal
O presidente dos Estados Unidos admitiu nesta quinta-feira que “certamente parece” que Jamal Khashoggi está morto, deixando ameaças de consequências “severas” caso seja provado que o regime de Ríade foi o responsável pela morte.
Trump, que tem insistido que devem ser conhecidos mais fatos antes de tomar uma posição, não revelou em que se baseou para fazer a última declaração sobre o destino do jornalista, no caso, sua eventual morte.
Quando questionado sobre se Khashoggi estava morto, Trump respondeu: “Certamente parece… Muito triste”. Sobre as consequências para os líderes sauditas se fosse apurado que eram responsáveis pela morte, respondeu: “Teriam que ser severas. É um caso mau. Mas vamos ver o que acontece”.
Entretanto, e de acordo com os relatos da BBC, a polícia turca já alargou o perímetro das buscas. Fontes anônimas revelaram que o corpo pode ter sido deixado em uma floresta próxima do consulado saudita em Istambul ou em terrenos agrícolas.
Apesar de concordarem com uma investigação conjunta, Arábia e Turquia continuam sem se entender quanto ao desaparecimento do jornalista.
A Turquia continua insistindo que a Arábia tem responsabilidades no caso. Por sua vez e em sentido oposto, a Arábia tem negado qualquer ação violenta contra o jornalista, não apresentando, até então, nenhuma versão plausível sobre o que teria acontecido.
Ciberia, Lusa // ZAP