Justiça italiana vai ouvir primeiro-ministro sobre gestão da crise do coronavírus

A Justiça italiana vai ouvir o primeiro-ministro Giuseppe Conte sobre a gestão, por parte do governo, da pandemia de coronavírus, que causou 34.000 mortes no país, informou a imprensa local. Grupo de familiares de vítimas na Itália apresentaram queixa na Justiça.

A Promotoria de Bérgamo, no norte da Itália, um dos principais focos da epidemia, também solicitou o depoimento da ministra do Interior, Luciana Lamorgese, do ministro da Saúde, Roberto Speranza, e do diretor do Instituto Superior de Saúde, Silvio Brusaferro. Segundo os jornais Il Corriere della Sera e Il Sole24Ore, os “interrogatórios” começarão nesta quarta-feira (10).

A Promotoria de Bérgamo abriu uma série de investigações sobre o caso e também recebeu cerca de 50 queixas nesta quarta de um grupo de familiares das vítimas por negligência e erros no manejo da pandemia. Ainda conforme Il Corriere della Sera, a Promotoria vai falar com o primeiro-ministro como uma “pessoa informada” dos eventos.

A investigação, pela qual os magistrados desejam ouvir Conte e seus dois ministros, refere-se à demora em declarar os municípios de Nembro e Alzano Lombardo, particularmente afetados, como “zona vermelha“.

A Promotoria de Bérgamo já havia aberto uma investigação sobre o caso e ouviu os depoimentos de políticos, incluindo o governador da Lombardia, Attilio Fontana, e seu consultor para a Saúde, Giulio Gallera.

O objetivo é estabelecer tecnicamente quem foi responsável por declarar as “zonas vermelhas” durante o início da crise, o que coloca o governo central contra as autoridades da região da Lombardia.

“Vou declarar tudo o que sei, com consciência. Estou calmo”, afirmou o primeiro-ministro, acrescentando que se encontrará com os promotores na sexta-feira (12). “Os cidadãos têm o direito de saber e nós temos a obrigação de responder”, acrescentou.

Parentes das vítimas

Um grupo de parentes de vítimas do coronavírus entrou nesta quarta-feira com uma queixa no tribunal de Bérgamo, no norte da Itália, por negligência e erros na gestão da pandemia que matou mais de 34.000 pessoas no país. É a primeira ação legal em grupo movida na península, que está entre os países mais atingidos pelo coronavírus.

Não queremos vingança, queremos justiça“, disse Stefano Fusco, 31 anos, um dos fundadores do grupo no Facebook “Verdade e justiça para as vítimas da COVID-19”, doença que matou seu avô em março em um asilo.

Acompanhados por advogados e membros do comitê, os parentes apresentaram 50 queixas ao Ministério Público em Bérgamo, a cidade mártir da pandemia, “porque se tornou o símbolo dessa tragédia”, explicou.

A página no Facebook, que em apenas dois meses teve mais de 50.000 adesões, tornou-se um comitê nacional, com advogados que estudam apresentar outras 150 queixas, explicou Fusco.

Os familiares acusam as autoridades de terem demorado a declarar a cidade como “zona vermelha”, algo que a associação, assim como alguns partidos e sindicatos, atribuem ao fato de que os interesses econômicos prevaleceram sobre os da saúde, por ser uma zona industrial próspera.

Os parentes das vítimas também questionam a política de cortes aplicada há anos ao sistema de saúde para favorecer uma privatização. Alguns familiares relataram as tragédias sofridas, devido à falta de informações ou à falta de cuidados durante a emergência de saúde.

O MP deve agora decidir se existem elementos para a abertura de um julgamento.

As vítimas

Cristina Longhini, farmacêutica que perdeu o pai Claudio, 65 anos, durante a pandemia espera descobrir a verdade sobre a morte de seu progenitor no hospital de Bergamo. “Meu pai havia acabado de se aposentar, estava em boas condições físicas, quando começou a apresentar sintomas, febre, disenteria e vômito”, disse ela à imprensa.

“Quando ele morreu, eles esqueceram de nos notificar“, lamenta Longhini, que mais tarde precisou identificar o corpo. “Ele estava irreconhecível, sua boca estava aberta, seus olhos estavam inchados, ele tinha lágrimas de sangue nas órbitas”, lembra Longhini.

“Eles me entregaram seus objetos pessoais em um saco de lixo, incluindo roupas manchadas de sangue, testemunho de seu sofrimento”, relata.

Como os cemitérios locais estavam cheios, o caixão foi transportado, juntamente com vários outros, em um caminhão militar para um destino desconhecido da família, que finalmente descobriu porque recebeu pelo correio a conta da funerária por sua cremação, a 200 km de distância.

“Queremos saber, ponto por ponto, como foi o tratamento na emergência, os erros, responsabilidades”, explicou à imprensa o presidente do comitê, Luca Fusco, pai de Stefano.

“Para o povo de Bergamo, para todos os que perderam um ente querido, pedimos justiça“, diz Laura Capella, 57 anos, membro do comitê que, como os outros parentes, não aspira a obter indenização.

// RFI

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