Pela primeira vez, os cientistas observaram o fenômeno do rigor mortis – a “rigidez da morte” – se apoderando de vermes moribundos. Mas parece que os vermes conseguem voltar atrás e enganar a morte.
“O que realmente nos surpreendeu no início foi que o rigor mortis em vermes começa enquanto ainda estão vivos“, explica o biólogo molecular Evgeniy Galimov, do University College, em Londres. O estudo foi publicado na semana passada nos Cell Reports.
Nos humanos, a morte acontece quando o coração para de bater e nosso cérebro deixa de funcionar – mas nossos processos fisiológicos não possuem equivalentes exatos nos minúsculos Caenorhabditis elegans, e é por isso que o “ceifeiro” tem que abordar as coisas de forma um pouco diferente aqui.
“A morte por insuficiência circulatória, como nos mamíferos, não acontece nos C. elegans”, diz Galimov. “Os vermes são tão pequenos que não precisam de um sistema circulatório para obter oxigênio para a respiração”.
Em 2013, membros da mesma equipe de pesquisa descobriram o “aspecto” da morte neste nematoide transparente, capturando uma notável “explosão de fluorescência azul intensa”, que ondula através de seus corpos à medida que as células morrem.
Desta vez, os pesquisadores mergulharam mais profundamente, descobrindo que a onda azul de necrose é acoplada a um rigidez do tipo rigor mortis, enquanto os músculos do verme se restringem em uma contração final de morte – mesmo que o resto do corpo continue se mexendo como se nada de especial estivesse ocorrendo.
O problema aqui é o cálcio. À medida que a morte se espalha pelo corpo, as células moribundas desencadeiam a morte das células adjacentes, liberando produtos químicos, e no momento em que a onda imparável atinge o intestino, a fluorescência azul é gerada por uma explosão de ácido antranílico.
“É como um ‘ceifeiro’ azul, rastreando a morte à medida que ela se espalha por todo o organismo até que toda a vida acabe”, explicou David Gems, membro da equipe.
Provavelmente, você deve estar se perguntando o que a morte do verme tem a ver com a mortalidade humana.
Essa é uma excelente pergunta, e é algo que a equipe também quer saber. Embora existam muitas diferenças entre os corpos humanos e os nematoides, também existem semelhanças e, se pudermos obter o suficiente sobre quais são, isso poderia nos ajudar a entender formas de prevenir a morte.
No centro do quebra-cabeças está a ATP (trifosfato de adenosina), unidade molecular de transferência de energia encontrada em todos os seres vivos.
As células liberam o cálcio mortal quando a ATP se esgota, mas ainda não está claro exatamente como, por que e quando os níveis de ATP caem, e em que ponto a morte em um organismo se torna inevitável.
Neste estudo, os níveis de ATP não diminuíram significativamente até que os nematoides estivessem muito próximos da morte, o que poderia nos ajudar- a entender mais sobre a senescência – como nossos corpos se deterioram com a idade.
“Descobrir a rigor mortis em vermes é emocionante, pois destaca um passo fundamental na cadeia de eventos desde a idade adulta saudável até a morte por velhice”, diz Gem. “Isso nos ajuda a entender a morte nos seres humanos, e talvez no futuro para evitar a morte em pacientes fatalmente doentes”.
Antes de chegar lá, porém, há muito mais pesquisas a serem feitas. O que mais os C. elegans podem nos contar sobre os processos de morte do organismo? Eles podem ser modificados? Talvez até resistir.
Ciberia // ZAP