Na Índia, há uma patrulha de mulheres policiais só para combater crimes sexuais

Christopher Herwig / UN

Treinaram artes marciais e estudaram legislação durante meses. Agora, as patrulhas femininas já saíram às ruas e vigiam pontos de ônibus, escolas e parques, locais onde as mulheres são “alvos fáceis” de ataques sexuais.

Kamal Shekhawat é a chefe da recém-criada unidade de mulheres policiais e que já patrulha as ruas de Jaipur, cidade do estado do Rajastão. À agência France Presse, Kamal disse que a mensagem que querem passar “é a de que temos tolerância zero para os crimes contra mulheres”.

De cantadas e piadas ofensivas a perseguições e violações, as mulheres indianas continuam sendo alvos de frequentes crimes sexuais, dentro de uma sociedade patriarcal onde facilmente casos não são reportados pelo medo como seriam tratadas e pela discriminação que podem sofrer.

Após terem treinado artes marciais e estudado a legislação nos últimos meses, as patrulhas de mulheres policiais criadas em maio já vigiam zonas onde as mulheres se encontram em situações de maior vulnerabilidade, como pontos de ônibus, escolas e parques.

Saroj Chodhuary, policial, esclareceu um grupo de mulheres sobre um dos modos de atuação da brigada: “As mulheres podem apenas ligar ou mesmo mandar uma mensagem pelo WhatsApp e nós viremos para cá. A identidade delas nunca será revelada, de modo que podem se sentir à vontade para apresentar a queixa”.

Radha Jhabua, uma mãe de 24 anos, disse que queria apresentar queixa de um vizinho que a persegue, mas o marido a desincentivou com receio de que poderia gerar má reputação ao nome da família. “Ele me disse para não fazer nada e esperar até que o homem parasse com aquilo. Estou contente por podermos apenas mandar uma mensagem de WhatsApp a estas ‘irmãs’ e elas tomam conta do resto”, comentou.

“Só a existência destas patrulhas já nos dá confiança“, disse por sua vez Seema Sahu, uma mulher de 38 anos, referindo que normalmente evitava sair à noite com suas duas filhas.

As forças policiais indianas são formadas sobretudo por homens – as mulheres são apenas 7% – e os defensores dos direitos das mulheres têm realçado que as vítimas são frequentemente julgadas pela sua aparência, alvo de perguntas condenatórias ou mesmo acusadas de terem provocado o crime quando tentam apresentar queixa às autoridades.

“As mulheres policiais são mais empáticas e as vítimas também se sentem mais confiantes e capazes de comunicar de uma forma aberta com elas”, considera a responsável pela unidade de Jaipur.

Na Índia, são reportadas cerca de 40 mil violações por ano, mas os números reais devem ser muito superiores. A situação se tornou alvo de criticismo e pressão internacional após a divulgação do caso de uma estudante de medicina de Nova Deli, que morreu após ter sido alvo de uma violação em grupo em dezembro de 2012.

A polícia indiana foi entretanto pressionada para recrutar mais mulheres, de modo a que cheguem a representar um terço do seu efetivo, mas o objetivo continua longe de ser concretizado.

A unidade de mulheres policiais é apenas a segunda criada no Rajastão, após a primeira ter iniciado funções na cidade de Udaipur, em outubro do ano passado.

A pressão para o combate aos crimes sexuais em Uttar Pradesh, no estado de Nova Deli, acabou dando lugar a um peculiar entendimento da polícia que criou “patrulhas anti-Romeo”, acusadas de aproveitarem para defender a moral conservadora hindu importunando casais solteiros e inter-religiosos.

Shekhawat assegura que as patrulhas de Jaipur não terão esse tipo de atuação. “Está tendo um efeito preventivo. Está restaurando a fé do público no papel da polícia para a manutenção da lei e da ordem”, afirma.

// ZAP

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