Um estudo recente revela que o movimento de rotação da Terra e o efeito da gravidade afetam a redistribuição global da água proveniente da fusão dos glaciares. Agora, uma nova ferramenta desenvolvida pela NASA permite prever que cidades serão afetadas.
Como dizia no ano passado Mathew Hauer à revista Wired, “o aumento do nível das águas do mar é previsível: vai ser algo entre o mau e o catastrófico“. Mas na realidade, o impacto da fusão dos glaciares será diferente em diferentes cidades costeiras, e é agora possível prever de forma mais rigorosa esse efeito em cada cidade.
Um estudo publicado esta semana na Science Advances fornece um olhar detalhado sobre o aumento do nível do mar. Descobertas recentes mostram quais são os glaciares e lençóis de gelo com que os habitantes de Nova York, Sydney ou qualquer uma das 291 cidades costeiras analisadas no estudo devem se preocupar.
Segundo o autor principal do estudo, Eric Larour, esta é uma perspectiva diferente, que muda o paradigma da forma como olhamos para a fusão dos glaciares.
“Até agora, olhávamos para a questão como alguém sentado no gelo tentando entender como o derretimento local pode afetar o nível da água do mar em todo o mundo”, explica Larour.
“Neste estudo, olhamos do ponto de vista de alguém que está em uma cidade costeira tentando entender como as áreas geladas de todo o mundo irão afetar o nível da água do mar no local em que se encontra”, conclui.
A nova ferramenta desenvolvida por cientistas do JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, na Califórnia, revela quais cidades serão afetadas. Em entrevista ao Earther, Larour, também pesquisador do JPL, explica que o gelo mais distante da nossa localização é o que pode representar um maior problema.
A Groenlândia, por exemplo, tem gelo suficiente para elevar os níveis do mar em até 6 metros de altura. As novas descobertas apontam que os glaciares do nordeste da Groenlândia, os mais distantes de Nova York, poderão ser as maiores contribuições para o aumento do nível do mar.
Pesquisas anteriores realizadas pela equipe de Larour, bem como observações do satélite GRACE, lançado em 2002 pela NASA, sustentam que os níveis do mar tenderão a diminuir perto dos locais onde há uma maior perda de gelo, devido à diminuição da atração gravitacional.
Segundo o novo estudo de Larour, se os glaciares do nordeste da Groenlândia se fundirem, a água resultante irá atingir as margens de Nova York, enquanto que o nível do mar em Oslo, pelo contrário, irá baixar.
“Esperávamos ver variações no modo como as áreas da Groenlândia afetam a América do Norte e o norte da Europa, mas não esperávamos resultados tão diferentes como os que obtivemos”, disse Larour.
O estudo analisou também a Antártida. A camada de gelo da Antártida Oeste, que poderia aumentar os níveis do mar em até 4 metros, já está no início do que alguns cientistas temem que seja um “colapso imparável“, que teria impacto em Sydney, na Austrália.
“A ideia de que os oceanos não são banheiras e que os lençóis de gelo têm uma espécie de halo gravitacional ao seu redor é incrível”, afirmou Robin Bell, cientista da criosfera no Observatório da Terra de Lamont-Doherty.
“Este estudo é o primeiro esforço para afastar a ideia anteriormente concebida de que importa onde o gelo está, e não de onde vem”, conclui.
A principal aplicação prática deste estudo é ajudar os urbanistas a entender os riscos que os glaciares e as placas de gelo de todo o planeta representam para as cidades.
Sabendo que o glaciar de Peterman, na Groenlândia, tem movimentos rápidos e é a fonte de um eventual aumento do nível da água do mar em Nova York, os urbanistas da cidade poderão escolher melhor suas prioridades: construir diques para evitar a subida da água ou melhorar as redes de esgoto para permitir um melhor escoamento das águas.
Embora, na realidade, devessem fazer ambas as coisas.
Ciberia // ZAP