Todas as células do nosso corpo contêm um “código de morte” cuja função pode ser causar a autodestruição das células que se tornam cancerígenas, afirma um estudo publicado esta semana.
Uma equipe de cientistas descobriu nas células humanas uma arma mortífera que pode causar seu “suicídio” quando se tornam cancerígenas. A descoberta pode ser muito promissora no tratamento do câncer em alternativa à quimioterapia, que provoca efeitos indesejados.
Os resultados da descoberta, feita por pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, foram publicados na Nature Communications esta semana. Nas células, a “arma” está incrustada nos RNA, moléculas que codificam as proteínas, e nos microRNA, pequenos RNA não codificadores.
“Agora que conhecemos o ‘código da morte’, podemos desencadear o mecanismo sem usar a quimioterapia e sem mexer no genoma. Podemos utilizar esses pequenos RNA diretamente, introduzi-los nas células cancerígenas e acionar o interruptor para matá-las”, afirmou o autor principal do estudo, Marcus E. Peter.
O pesquisador assinalou ainda que a quimioterapia tem vários efeitos secundários, como gerar novos cânceres, uma vez que ataca e altera o genoma, sendo que pode ser uma boa alternativa.
Além disso, Marcus E. Peter acredita que poderiam ser criados microRNA artificiais “muito mais poderosos” para matar células cancerígenas do que os microRNA “desenvolvidos pela própria natureza”, mas usando o “mecanismo que a natureza desenvolveu”.
Em um estudo anterior, publicado no ano passado, a equipe descreve que os tumores malignos morrem na presença de moléculas de RNA, e que as células cancerígenas tratadas com essas moléculas de RNA nunca se tornam resistentes porque as moléculas eliminam ao mesmo tempo vários genes que esse tipo de células necessita para sobreviver.
Na época, os cientistas desconheciam qual o mecanismo que provocava a autodestruição dos tumores. Apenas sabiam que o que fazia com que os microRNA se tornassem tóxicos para as células cancerígenas era o fato de terem uma sequência de seis nucleótidos (moléculas orgânicas que são os blocos construtores de RNA e DNA).
As moléculas orgânicas em questão são a guanina, a citosina, a adenina ou a timina (constituintes do DNA, que contém instruções genéticas) e o uracilo (RNA).
Nesse novo estudo, a equipe testou 4.096 combinações de bases de nucleótidos na sequência de seis moléculas identificadas nos microRNA tóxicos e descobriu que a combinação mais mortífera é rica em guanina.
Posteriormente, o pesquisador verificou que os microRNA expressos no organismo para combater o câncer usam a mesma sequência para matar células cancerígenas.
Além disso, seu grupo de trabalho constatou que as próprias células cortam em pequenos pedaços um gene envolvido no seu crescimento anômalo. Esses pedaços, sustentam os cientistas, atuam como se fossem microRNA e são muito tóxicos para o câncer.
O passo seguinte passa por transformar toda a teoria em uma nova terapia.
Ciberia // ZAP