O estresse afetou a reprodução dos últimos titanossauros da Europa, segundo um estudo do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont (ICP) publicado nesta segunda-feira (24) pela revista Scientific Reports.
A pesquisa revelou que a concorrência entre espécies teria sido a causa dos ovos patológicos – anormais – de dinossauro de 70 milhões de anos atrás que se recuperaram em vários jazigos do sudoeste da Europa.
Os pesquisadores acreditam que o estresse sofrido pela população de titanossauros teria provocado que as fêmeas retivessem os ovos durante mais tempo que o normal, provocando alterações no processo de formação da casca.
Os ovos patológicos de titanossauros encontrados na Europa são um mistério que intrigou os paleontólogos desde que foram descritos nos anos 70.
A principal característica destes ovos anormais é que eles têm uma casca multilaminada, com várias camadas sobrepostas, uma má formação relacionada com o fenômeno da distocia, que ajuda à retenção dos ovos no oviduto da fêmea durante um período de tempo anormalmente longo.
“A distocia é uma consequência das mudanças químicas ligadas ao ciclo reprodutivo quando as condições ambientais, sejam climáticas ou ecológicas, não são ótimas para o caso”, explicou Albert G. Sellès, cientista do Grupo de Faunas do Mesozoico do ICP, que liderou o estudo.
Sellès identificou uma correlação entre a presença destes ovos patológicos e um intenso fenômeno de substituição faunística que aconteceu na Europa no final do Cretáceo.
Segundo o paleontólogo, durante milhões de anos, os titanossauros foram o grupo de dinossauros mais abundante e diverso da Europa, até que chegaram os hadrossauros há cerca de 70 milhões de anos, que irromperam com força em um período relativamente curto dentro da fauna de finais do período Cretáceo.
“Perante uma perturbação dessa magnitude, sabemos que o aumento na competitividade entre espécies pelos recursos naturais produz uma série de alterações nas comunidades ecológicas, entre elas um aumento do estresse“, segundo Sellès.
“Este estresse pode-se expressar de muitas formas e uma delas é a alteração dos ciclos reprodutivos”, explica o cientista.
Os ovos patológicos têm sido localizados em um intervalo de tempo muito concreto, o que, segundo o trabalho, indicaria que sua presença estaria relacionada com um fenômeno “muito particular e pontual”.
“Do mesmo modo que uma galinha deixa de pôr ovos em situações de estresse, as enormes fêmeas de titanossauros teriam retido os ovos nos ovidutos mais tempo do que o habitual e esta situação teria se refletido na estrutura da casca”, detalhou Sellès.
Os pesquisadores descartaram outras hipóteses, como a anomalia ter sido produto de uma mudança climática ou de uma mudança nos hábitos alimentares dos dinossauros.
O estudo analisou 450 amostras de ovos patológicos do gênero Megaloolithus, que se associa ao grupo dos titanossauros, dinossauros herbívoros de longos pescoços e caudas.
Ciberia // EFE