O periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) já esteve com seus dias contados. Com apenas 250 indivíduos na natureza em 2003, o nível de ameaça à espécie era gravíssimo, com risco de desaparecer da Serra de Baturité (CE), um dos três pontos de ocorrência da espécie.
A serra, que fica a cerca de 100 km de Fortaleza, é bastante sensível, pois se trata de uma região de Mata Atlântica, ambiente natural mais ameaçado do país, em pleno sertão cearense.
O local é um importante reservatório de água e abastece cerca de dois milhões de pessoas, englobando a região metropolitana de Fortaleza.
Para garantir a proteção desse periquito, o mais ameaçado das Américas, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza iniciou, em 2007, o apoio à ONG Aquasis.
“São quase dez anos de suporte às iniciativas que visam a conservar a espécie, mas ainda há muito a ser feito pela proteção de todo o ambiente natural em que o periquito vive”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Por conta deste trabalho, neste ano, nasceram mais de 180 filhotes de periquitos-cara-suja na natureza. Ao todo, mais de 440 filhotes nasceram nas caixas-ninho nos últimos sete anos.
O resultado é bastante significativo, pois, atualmente, estima-se que menos de mil indivíduos vivam na natureza, número muito baixo e preocupante. A espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção, sendo o psicitacídeo (grupo de aves das araras, periquitos e papagaios) mais vulnerável do país.
O periquito-cara-suja possui grande importância na floresta e para os moradores da região, pois é responsável pela disseminação de sementes maiores, que outras espécies não conseguem quebrar.
“Com o desaparecimento dele, essas árvores como o camunzé ou a guabiraba poderiam se prejudicar, empobrecendo a floresta, o que, por consequência, afeta diretamente o bem-estar das comunidades que vivem no entorno da região e dependem da floresta”, explica Alberto Campos, um dos fundadores da Aquasis.
O coordenador do projeto e pesquisador responsável pela pesquisa, Fábio Nunes, afirma que a espécie, por ser bastante rara e endêmica (exclusiva) dessa região, chama muito a atenção dos observadores de aves que viajam milhares de quilômetros para visualizar o periquito.
Dessa forma, eles aquecem a economia local por meio do turismo ecológico, pois consomem nos restaurantes, lojas e hotéis da cidade. “A observação de aves é o turismo que mais cresce na Serra de Baturité e tem injetado renda significativa na economia local”, conclui.
Ações prioritárias
Campos destaca que a espécie não tem um Plano de Ação Nacional (PAN) próprio. “Ela consta no PAN das aves da Caatinga, junto com outras 11 espécies. Não tem como definir estratégias de conservação para aves tão diferentes”, explica.
O PAN é uma política pública que tem por objetivo identificar e orientar as ações prioritárias para combater as ameaças que põe em risco as espécies e ambientes naturais brasileiros.
De acordo com a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, o país deve elaborar e executar Planos de Ação para todas as espécies oficialmente ameaçadas até 2020.
Além disso, os pesquisadores destacam a necessidade da criação de unidades de conservação de proteção integral – aquelas que permitem apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, proibindo sua extração ou dano – e a urgência da fiscalização no entorno da Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual da Serra de Baturité.
No caso do periquito-cara-suja, as principais ameaças são a falta de árvores de grande porte que seriam utilizadas para fazer os ninhos e o tráfico de animais silvestres.
Para resolver essas questões, eles contam, foram criadas duas frentes de trabalho: uma de conscientização da população para a importância da espécie e outra de implantação de caixas-ninho.
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