Mistério do “show de horrores” encontrado em cemitério no Panamá é desvendado

(dr) Nicole Smith-Guzmán / STRI

Um grupo de arqueólogos revelou importantes informações sobre os terríveis sepultamentos encontrados em um cemitério milenar no Panamá, contrariando o “show de horrores” defendido pelo arqueólogo Samuel Lothrop.

Em 1951, Samuel Lothrop descobriu um cemitério datado de 550 a 850 d.C. na Playa Venado, no Panamá. No decorrer das escavações arqueológicas, o arqueólogo encontrou mais de 300 sepulturas e ossos, destacando que os esqueletos aparentavam ter sinais de mutilação, decapitação, sacrifícios e canibalismo.

Desde de então, o artigo no qual Lothrop descrevia a descoberta foi citado mais de 35 vezes como prova do comportamento cruel e violento da cultura. No entanto, há um grande problema: as evidências que sustentam a teoria não existem, na verdade.

De acordo com um novo estudo publicado recentemente, realizado por arqueólogos do Smithsonian Tropical Research Institute, as ossadas encontradas não apresentam sinais de violência no momento da morte.

Na nova pesquisa, os pesquisadores analisaram 77 esqueletos encontrados no cemitério, bem como os documentos arquivados da época de Lothrop.

Os cientistas concluíram que grande parte dos traumas encontrados nos esqueletos no Panamá foram feitos antes da morte, e que essas pessoas conseguiram se recuperar das lesões bem antes de serem enterradas.

Na verdade, os maxilares abertos dos esqueletos, anteriormente considerados como uma prova de que uma pessoa tinha sido enterrada ainda viva, não passam de um relaxamento muscular após a morte.

Além disso, a disposição caótica em que os corpos foram encontrados, segundo os cientistas, indica que habitantes do Panamá faziam enterros repetitivos das pessoas novas, que inicialmente era sepultadas em covas temporárias.

Os resultados da análise coincidem com outras pesquisas sobre os hábitos e rituais fúnebres no Panamá durante as épocas pré-colombiana e colonial, desmentindo assim a hipótese de Lothrop, que descreveu a descoberta como um “show de horrores”.

“O posicionamento do enterro e a ausência de trauma perimortem entram em contradição com a interpretação de Lothrop, que descreveu mortes violentas no local”, esclareceu Smith-Guzmán, uma das pesquisadoras.

(dr) Nicole Smith-Guzmán / STRI

Nicole Smith-Guzmán analisa os ossos encontrados em Playa Venado, no Panamá

Descrição exagerada e infundada

As conclusões de Lothrop não são apenas exageradas como também parecem não ter qualquer suporte em evidências físicas. O seu artigo, intitulado “Suicídio, sacrifício e mutilações em sepultamento em Playa Venado, Panamá”, acabou dando certo tom aos trabalhos que foram realizados posteriormente.

Lothrop, que trabalhou no Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, considerou que a forma como os corpos foram dispostos era indicativo de situações muito violentas. No entanto, e segundo os cientistas, seu trabalho é só um indicativo da má qualidade do trabalho científico que se fazia na época.

Para os arqueólogos Nicole Smith-Guzman e Richard Cooke, Lothrop foi “inspirado” pelos relatos dos conquistadores espanhóis do século XVI, que tinham interesse em que os povos da América do Sul parecessem tão selvagens quanto possível.

“Percebemos agora que muitos desses cronistas espanhóis estavam motivados em provar que essas populações indígenas, conhecidas como ‘selvagens’, precisavam ser conquistadas”, disse Smith-Guzman.

“Em vez de simbolizarem um exemplo de morte violenta e deposição descuidada, a Playa Venado é um exemplo de como as sociedades pré-colombianas mostravam respeito e cuidado pelos familiares após a morte”, rematou.

Ciberia // Sputnik / ZAP

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