Enquanto o governo anunciava vacina de reforço contra o coronavírus para maiores de 18 anos, ampliando muito o público que terá direito à dose extra, um outro cenário levantava preocupação de especialistas a partir de um dado apresentado pelo próprio governo: mais de vinte milhões de pessoas estão com a segunda dose atrasada num momento em que se aproximam as festas de fim de ano e num país ansioso por abraços e celebrações.
Com 60% dos brasileiros com o esquema de imunização anticovid completo, o pesquisador da Fiocruz Marcelo Gomes, especialista em saúde pública, disse à RFI que o Natal e o reveillon serão um desafio e tanto para os brasileiros. Ele cita número expressivo de pessoas com atraso na segunda dose e teme que país viva repique de casos com na Europa.
“Final de ano é um momento bastante delicado. A gente pode acabar caindo numa armadilha de novo, como foi a virada do ano passado. O país ainda está com uma cobertura vacinal que não é a ideal, embora a gente esteja avançando bastante, já passamos outros países que estavam à nossa frente. Isso é muito bom. Agora a gente sabe que também tem uma população bastante significativa que tomou a primeira dose e já está atrasada na segunda. Então é importante reforçar e buscar alternativas para recuperar essa população, porque isso neste momento é até mais importante do que a própria terceira dose”, disse Marcelo Gomes.
O governo federal diz que haverá um esforço junto com as prefeituras por meio de campanhas para enfatizar o apelo a esses moradores que não foram tomar a segunda dose e em alguns casos poderá haver busca ativa.
“Nós temos exemplos, na Europa e em outros países, inclusive na América, que vêm tendo dificuldade neste momento. E nós não podemos desmobilizar e correr o risco de enfrentar momentos ainda mais difíceis”, disse Rodrigo Lacerda, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Quantidade não é problema
O ministro da Saúde Marcelo Queiroga disse em coletiva que não há risco de faltar imunizante para a dose de reforço para o público em geral. O governo reduziu de seis para cinco meses o prazo entre a segunda e a terceira doses, mas disse que esse calendário assegura o fornecimento a todos.
“Nós temos doses de vacina suficientes para garantir que essas vacinas cheguem tempestivamente a todas as 38 mil unidades básicas de saúde do Brasil. Nós ultrapassamos os Estados Unidos em relação ao percentual da população completamente imunizada. Mas nós temos que avançar ainda mais”, disse Queiroga.
A média móvel de mortes nos últimos sete dias está em 244 óbitos diários, o que indica uma estabilização. Não é um número desprezível, mas mostra um cenário muito melhor do que o país já enfrentou este ano, com milhares de mortes num só dia. Por isso o brasileiro está agendando confraternização, marcando churrasco e se organizando para viajar neste fim de ano.
O especialista da Fiocruz diz que é possível aproveitar esse momento mais seguro, porém não dá para bancar o super herói e colocar tudo a perder: “Manter o uso de máscara adequada, evitar ainda grandes aglomerações. Quando for fazer encontros de amigos, encontros familiares, dar preferência para grupos relativamente pequenos, não fazer uma grande aglomeração. Sempre dar preferência para locais abertos. Se for fazer num local fechado, que seja muito bem ventilado, com janelas abertas, portas abertas, posicionamento de ventiladores para fazer a circulação e renovação do ar nesse ambiente interno.”
Como muitas das celebrações dessa época acontecem ao redor da mesa de jantar, ele diz que é preciso atenção para evitar a contaminação dos alimentos pela saliva de quem possa estar doente, sem saber. “Se for fazer um evento com comida e bebida, tem que cuidar do distanciamento, evitar ficar conversando muito próximo dos pratos sem a máscara. Isso é um ponto bastante delicado.”
// RFI