Em 1895, ao completar 50 anos, Elie Metchnikoff ficou cada vez mais ansioso em relação ao envelhecimento.
Como resultado, o cientista russo vencedor do Prêmio Nobel e um dos fundadores da imunologia, desviou sua atenção da imunologia para a gerontologia — termo que ele cunhou.
Ele ficou fascinado com o papel que as bactérias intestinais desempenham na saúde e nas doenças — e sugeriu que a população de parte da Europa Oriental vivia mais porque consumia vários alimentos fermentados contendo bactérias lácticas.
Embora popular na época, essa teoria ligando os micróbios intestinais ao envelhecimento saudável foi amplamente ignorada pelos cientistas até relativamente pouco tempo.
Agora reconhecemos a importância que os trilhões de bactérias, conhecidos como microbioma ou microbiota intestinal, têm na regulação da saúde e das doenças.
Há quase uma década acumulam-se evidências de que a composição do microbioma muda com a idade.
Em 2012, uma pesquisa conduzida por meus colegas da University College Cork, na Irlanda, mostrou que a diversidade no microbioma estava relacionada a questões de saúde na velhice, incluindo fragilidade.
Mas ainda não sabíamos muito sobre o efeito do microbioma no envelhecimento do cérebro.
Em 2017, revisitamos as ideias de Metchnikoff, colocando-as no contexto do envelhecimento cerebral, e mostramos que o envelhecimento induzia alterações na microbiota e no sistema imunológico, e isso estava associado ao declínio cognitivo e à ansiedade.
No entanto, este estudo, assim como muitos outros na área, mostrou apenas uma associação entre o envelhecimento e esses fatores. Não provou que uma coisa causava a outra.
Em um estudo subsequente, demos um passo adiante ao mostrar que uma dieta voltada à microbiota enriquecida com inulina prebiótica (um prebiótico que alimenta as bactérias benéficas no intestino) era capaz de diminuir os efeitos do envelhecimento no cérebro de camundongos de meia-idade.
No entanto, ainda não estava claro se a própria microbiota causava a desaceleração do envelhecimento do cérebro.
Em nosso último estudo, mostramos que ao pegar o microbioma de camundongos jovens e transplantá-lo em camundongos velhos, muitos dos efeitos do envelhecimento no aprendizado e na memória e as deficiências imunológicas podem ser revertidos.
Usando um labirinto, mostramos que o transplante de microbiota fecal de camundongos jovens para velhos fez com que os roedores mais velhos encontrassem uma plataforma escondida mais rápido.
A conexão imunológica
O envelhecimento está associado a um aumento da inflamação em todos os sistemas do corpo, incluindo o cérebro.
É claro que os processos imunológicos desempenham um papel importante no envelhecimento do cérebro, com ênfase cada vez maior no papel de uma célula imunológica específica, a micróglia.
Ironicamente, é o mesmo tipo de célula que Metchnikoff visualizou no microscópio, embora em outros tecidos, no fim do século 19.
Agora também sabemos que a ativação dessas células está sob constante regulação do microbioma intestinal.
Então a parte seguinte do quebra-cabeças foi ver se os efeitos negativos do envelhecimento sobre a imunidade também eram reversíveis com o transplante da microbiota de camundongos jovens para velhos. E, de fato, grande parte da inflamação diminuiu.
Por fim, mostramos que as substâncias químicas em uma região do cérebro envolvida no aprendizado e na memória (o hipocampo) eram mais parecidas com as de camundongos jovens após o transplante de microbiota.
Nossos resultados mostram conclusivamente que o microbioma é importante para um cérebro saudável na velhice.
Será que o afastamento de Metchnikoff da imunologia foi prematuro para a compreensão dos segredos do envelhecimento?
Na verdade, a contribuição relativa das alterações imunológicas observadas nos camundongos que receberam microbiota jovem para os efeitos gerais de rejuvenescimento merece um estudo mais aprofundado.
Mas duas questões importantes permanecem. Quais são os mecanismos exatos em jogo? E podemos traduzir essas descobertas notáveis para os humanos?
Ratos não são humanos
Trabalhar com uma situação controlada, como no caso dos camundongos — que têm genética, dieta e microbioma bem definidos — é muito diferente de olhar para os seres humanos. Precisamos ter cuidado para não interpretar errado essas descobertas.
Não estamos defendendo transplantes fecais para pessoas que desejam rejuvenescer o cérebro.
Em vez disso, esses estudos apontam para um futuro onde haverá um foco em dietas direcionadas à microbiota ou tratamentos baseados em bactérias que vão promover a saúde intestinal e a imunidade ideais para manter o cérebro jovem e saudável. Essas estratégias serão, de fato, um elixir mais palatável.
Os princípios gerais de Metchnikoff parecem estar corretos: proteger os micróbios intestinais pode ser o segredo da fonte da juventude. Com os avanços na área da saúde, a longevidade aumentou significativamente.
E embora não possamos parar a passagem do tempo, podemos desenvolver tratamentos que protegerão nossos cérebros da deterioração — e temos mais do que um pressentimento de que o microbioma pode ser uma das maneiras.
No entanto, muito trabalho ainda é necessário para entender melhor como os micróbios intestinais são capazes de “rebobinar” algumas características de um cérebro envelhecido.
// BBC