Uma investigação da revista Forbes revela como o universo empresarial de Donald Trump se beneficiou com eventos de caridade, organizados pelo filho Eric, para recolha de fundos para crianças com câncer.
A revista Forbes apurou que uma parte das receitas de eventos de solidariedade organizados pela Eric Trump Foundation acabaram nos cofres de empresas do grupo do presidente dos EUA.
Segundo a publicação especializada em economia e negócios, estão em causa receitas obtidas em torneios de golfe solidários realizados em resorts do grupo empresarial do governante, com o fim de apoiar o Hospital de Pesquisa Pediátrico St. Jude, que é especializado no tratamento e investigação de câncer infantil.
Este hospital recebeu da Fundação de Eric, na última década, mais de 11 milhões de dólares, mas nem todo o dinheiro angariado em nome da luta contra o câncer foi para o destinatário anunciado, acabando parte dele nas empresas de Trump, revela a Forbes.
A família de Trump sempre afirmou que estes torneios solidários eram organizados gratuitamente e que a maioria da comida, das bebidas, do equipamento e do entretenimento era fornecida por patrocinadores. Assim, estaríamos a falar de dinheiro totalmente destinado à caridade.
Mas a Forbes destaca que o grupo de Trump cobrava à Eric Trump Foundation pela organização dos torneios.
Até 2010, as despesas dos torneios rondaram, em média, os US$ 57 (R$ 185 mil), mas em 2011 passaram em torno dos US$ 140 mil (R$ 455 mil). Em 2012, desceram novamente, mas nos anos seguintes registraram sempre uma tendência de subida, com US$ 230 mil (R$ 745 mil) em 2013, US$ 242 mil (R$ 785 mil) em 2014 e US$ 322 mil (mais de R$ 1 milhão) em 2015, de acordo com a revista.
Este aumento nos custos teria sido motivado pelo “incômodo” de Trump, conta à Forbes um antigo funcionário de um dos seus campos de golfe.
“Foi tipo: ‘estamos doando tudo isto e não há vestígios de papel? Nenhum crédito?’ E ficou maluco. Disse: ‘Não quero saber se é o meu filho ou não – todo mundo é faturado‘”, conta um antigo membro e diretor de marketing do campo de golfe Westchester, que fica em Briarcliff Manor, Nova York.
Trump teria então promovido “uma operação de lavagem de dinheiro” semelhante ao que fazem os cartéis de droga, diz a Forbes, destacando que sua fundação doou dinheiro à fundação do filho Donald J. Trump, que foi então canalizado para a Eric Trump Foundation e que “acabou nos cofres do negócio privado de Donald Trump”.
Para garantir que a fundação de Eric “fazia o máximo de dinheiro possível para a Organização Trump”, o magnata instalou pessoal de sua confiança nos quadros de direcão, substituindo amigos do filho que não tinham interesses nos seus negócios, relata ainda a Forbes.
O advogado de Trump, Michael Cohen, e o seu diretor de redes sociais, Dan Scavino Jr., foram alguns dos nomes escolhidos para a nova direção.
Mal tomou posse, canalizou grandes quantidades de dinheiro que estavam destinadas ao hospital pediátrico para outros eventos de caridade organizados por associados de Trump ou da sua família, entre os quais estão, “pelo menos, quatro grupos que, posteriormente, pagaram para realizar torneios de golfe” em campos do milionário.
“Eles usavam dois chapéus. Estamos a lidar com pessoas que falam sobre o evento e sobre a caridade e que, ao mesmo tempo, também estão pensando naquilo como uma corporação e como um negócio. É um clube com fins lucrativos. Estão tentando fazer dinheiro”, conta à Forbes outro ex-diretor do campo de golfe Westchester, Patrick Lanagan.
Em 2016, o jornalista David Farenthold, do The Washington Post, já tinha exposto a forma como Donald Trump usava o dinheiro angariado pela fundação de caridade para, por exemplo, fazer compras pessoais – comprou, por exemplo, um retrato de si próprio no valor de US$ 20 mil (R$ 65 mil) com dinheiro da fundação.
A reportagem valeu a Farenthold o prestigiado Prêmio Pulitzer 2017, o mais importante do jornalismo.
// ZAP