Indústria do açúcar pagou para que a gordura fosse principal culpada por problemas cardíacos

A indústria do açúcar pagou a cientistas para minimizar a ligação entre açúcar e doenças cardíacas e promover as gorduras saturadas como as grandes culpadas destes problemas.

Um estudo publicado nesta segunda-feira (12) na revista científica JAMA Internal Medicine revela que, na década de 60, a indústria do açúcar pagou a cientistas para minimizar os efeitos nefastos do açúcar na saúde.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram documentos históricos que comprovam que, há cerca de 50 anos, quando os estudos começaram a ligar dietas ricas em açúcar a um aumento de casos de doenças cardíacas na população norte-americana, a indústria pagou a investigadores da Universidade de Harvard para que publicassem estudos que colocassem as culpas nas gorduras.

“Eles conseguiram manipular a discussão sobre o açúcar durante décadas”, afirma Stanton Glantz, um dos investigadores responsáveis pelo novo estudo.

“O estudo ajudou a moldar não apenas a opinião pública sobre as causas de problemas cardíacos mas também a perspectiva da comunidade científica sobre fatores de risco para doenças do coração”, explica Cristin Kearns, a pesquisadora que descobriu os documentos num arquivo público.

Os documentos mostram que a Sugar Research Foundation – um grupo da indústria hoje chamado Sugar Association – pagou a cientistas da Universidade de Harvard o equivalente a US$ 50 mil (cerca de R$ 165 mil) para publicarem uma revisão de estudos sobre açúcar, gorduras e doenças do coração.

Os investigadores ignoraram estudos que comprometessem o açúcar e concluíram que havia apenas uma mudança na dieta – alterar o consumo de gorduras – que podia prevenir doenças cardíacas.

O artigo foi publicado em 1967 na New England Journal of Medicine. Tanto os cientistas como os executivos do açúcar responsáveis pela pesquisa já morreram.

“Foi uma estratégia muito inteligente da indústria, porque pesquisas como estas, especialmente as publicadas em revistas científicas importantes, tendem a moldar a discussão científica”, descreve Stanton Glentz ao New York Times.

Foi nessa altura que começou a obsessão com dietas pobres em gordura – e a indústria alimentar continuou a adicionar açúcar aos seus produtos para melhorar o sabor sem ser muito incomodada por isso.

Os problemas cardíacos são a principal causa de morte prematura nos Estados Unidos, e os novos resultados mostram que o açúcar é, possivelmente, tão culpado como as gorduras.

Em resposta ao artigo, a Sugar Association afirma que em 1967 as revistas médicas não exigiam que os investigadores revelassem possíveis conflitos de interesse, sublinhando que estudos patrocinados pela indústria são importantes para o debate científico.

No ano passado, o New York Times revelou que a Coca-Cola estava financiando estudos que demonstrassem que o sedentarismo era o principal culpado pela obesidade, em vez da má alimentação.

AF, ZAP

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …