Os funcionários do museu de Auschwitz dizem estar sendo vítimas de intimidações desde a entrada em vigor da polêmica lei do Holocausto.
Desde que começou a polêmica em torno da lei que criminaliza a utilização de expressões como “campos de extermínio poloneses”, têm crescido os relatos de episódios de intimidações aos trabalhadores do memorial e museu de Auschwitz-Birkenau.
Segundo o The Guardian, a instituição tem sido vítima de uma onda de “ódio, notícias falsas e manipulações”.
A polêmica lei, aprovada pelo parlamento polonês em fevereiro, motivou violentas críticas de países como a Ucrânia, Estados Unidos e Israel. Este último, inclusive, acusou a Polônia de tentar apagar a história e de negar o envolvimento de muitos poloneses no genocídios dos judeus.
A lei permite punir com prisão quem acusar a Polônia de cumplicidade nos crimes cometidos contra os judeus no Holocausto.
A reação também foi violenta entre os grupos nacionalistas poloneses, que têm montado uma campanha de desinformação em torno do museu.
Entre as várias acusações, os nacionalistas acusam a administração do museu de desvalorizar o destino dos cerca de 74 mil prisioneiros poloneses que morreram no campo, focando-se apenas nos mortos judeus.
Em março, a casa de um guia italiano foi vandalizada por apoiantes da extrema-direita, com grafitis como “A Polônia para os poloneses” e desenhos que comparavam a estrela de Davi com a suástica nazista. Este ataque aconteceu pouco tempo depois de Piotr Rybak, um político nacionalista (condenado por ter queimado a efígie de um judeu ortodoxo, em 2015), ter visitado Auschwitz, e protagonizando outro momento de tensão.
O Público conta que, em vídeo publicado no YouTube, vê-se como Rybak e um grupo de apoiadores com bandeiras polonesas cercam e intimidam o guia, acusando-o de mentir sobre o destino dos poloneses que estiveram presos no campo de concentração.
Um porta-voz do museu garantiu que o episódio foi um caso isolado, mas, ainda assim, crescem os receios entre os funcionários do museu, que temem que a direção da instituição desvalorize essas situações para evitar aumentar a controvérsia política.
“A administração tem muito medo do governo e os guias têm medo de perder o emprego para denunciar as provocações que têm acontecido”, disse um guia ao The Guardian.
No entanto, os responsáveis pelo memorial e museu têm também tornado as reclamações públicas. Em abril, o irmão de Piotr Cywinski, diretor da instituição, denunciou através do Facebook aquilo que batizou de “50 dias incessantes de ódio” dirigidos ao irmão.
“Ao longo de 12 anos, ele trabalhou em um dos lugares mais terríveis do mundo, num escritório com vista para forcas e um crematório”, escreveu. Aguentar “dezenas de artigos de sites duvidosos, centenas de tuítes ofensivos, memes, obscenidades, ameaças e denúncias é mais que suficiente para alguém ficar doente”.
Pawel Sawicki, que dirige as redes sociais do museu de Auschwitz-Birkenau, diz que são falsas as acusações de que a bandeira polonesa não é autorizada no museu ou que a memória dos poloneses não está ali representada. Por esses motivos, o museu assumiu um papel interventivo, se envolvendo em discussões em redes sociais e divulgando a lista de falsas acusações que lhe têm sido dirigidas.
Auschwitz se tornou um “alvo” no meio de disputa política e internacional e Sawicki afirma que, embora não se envolvam em política, “por respeito a todas as vítimas temos a obrigação de defender a memória e a história desse lugar”.
Ciberia // ZAP