Após 15 anos entre chefia de governo e de Estado, resultado inoficial aponta presidente Erdogan reeleito, agora com poderes executivos totais. Aliança conservadora-nacionalista garante maioria parlamentar absoluta.
Após numerosas notícias contraditórias e desmentidos, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, declarou-se reeleito neste domingo (24/06).
“Nosso povo nos deu a tarefa de manter os postos presidencial e executivo”, disse, em breve discurso em Istambul. “Eu espero que ninguém tente lançar uma sombra sobre os resultados e prejudicar a democracia, de forma a esconder o próprio fracasso.”
Segundo resultados ainda inoficiais, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, apresentou 53% dos votos. O Partido do Movimento Nacionalista (MHP), com que forma aliança, obteve 11%. Juntos, eles deterão maioria absoluta no Parlamento. O principal oposicionista, o Partido Republicano do Povo (CHP), teve 31%.
Pouco depois do encerramento das urnas, seu líder, Muharrem Ince, acusou a agência estatal de notícias Anadolu de manipulação, advertindo seus adeptos que não se deixassem impressionar pelas primeiras contagens, pois, as autoridades sempre divulgavam primeiro os resultados de municípios próximos do partido de Erdogan.
De fato: nas primeiras fases da apuração o AKP apresentava maioria absoluta, segundo fontes próximas a Ancara. Além disso, enquanto o governo afirmava já terem sido aprovadas mais de 95% das urnas, um porta-voz do CHP rebatia que apenas 39% dos votos haviam sido contados e que a eleição iria ao segundo turno.
O Partido Democrático dos Povos (HDP), socialista e pró-curdo, saiu com cerca de 11%, superando a cláusula de barreira de 10% e, assim, habilitando-se a ocupar assentos no Parlamento. Seu candidato, Selahattin Demirtas, conduziu a campanha a partir da prisão, contando com o respaldo não apenas dos curdos, mas também da esquerda turca.
Cerca de 56 milhões de cidadãos foram pela primeira vez chamados às urnas para eleger simultaneamente o presidente e um novo parlamento. A participação eleitoral foi de 88%. Este pleito é considerado um passo decisivo para a reforma constitucional aprovada em 2017, que entrega todos os poderes executivos ao chefe de Estado.
Entre a chefia de governo e de Estado, Erdogan já dirige os destinos da Turquia há 15 anos, de forma crescentemente autoritária. Caso seja efetivamente reeleito, o líder turco começa o mandato sob um novo sistema presidencialista. A reforma constitucional para esse fim foi aprovada em referendo, em abril de 2017.
Na concepção de sistema presidencial de Erdogan, o poder de formar e dirigir o governo deve ser transferido do Parlamento para o presidente. Ele também pode vir a acumular o comando dos setores de inteligência e militar, e todos os ministros também deverão ser escolhidos por ele.