Donald Trump questionou, em agosto do ano passado, seus conselheiros sobre uma eventual invasão militar à Venezuela. Depois de ser aconselhado a não optar pela intervenção, o presidente abordou repetidamente a questão em outros encontros.
De acordo com um novo relatório, que a Associated Press teve acesso, Donald Trump fez a pergunta no fim de uma reunião na Sala Oval, na Casa Branca, que tinha sido marcada para discutir as sanções contra a Venezuela.
“Com a rápida degradação da Venezuela ameaçando a segurança regional, por que os Estados Unidos não podem simplesmente invadir esse país conturbado?”, disse o presidente dos EUA, segundo a agência de notícias, que cita um alto funcionário da administração norte-americana, que teve acesso à conversa.
Atualmente, a Venezuela, liderada desde 2013 por Nicolás Maduro, atravessa uma grave crise econômica, social e humanitária, que já obrigou milhares de pessoas a fugir do país, atravessando as fronteiras em direção ao Brasil e à Colômbia.
A sugestão de Trump implícita na pergunta surpreendeu os funcionários que estavam na reunião, incluindo o então secretário de Estado, Rex Tillerson, e o então conselheiro de segurança nacional, o general H.R. McMaster – membros que já desligados, entretanto, da administração norte-americana.
Durante uma breve troca de palavras – de cerca de cinco minutos –, os conselheiros da Casa Branca explicaram a Trump as consequências graves que uma eventual ação militar na Venezuela poderia causar. E, de que forma a intervenção poderia ainda implicar a perda do apoio dos governos latino-americanos, importantes para travar a influência de Maduro na região, disse à agência a mesma fonte que pediu anonimato.
Trump acabou por acatar as explicações dos conselheiros, mas sem deixar de apontar casos de invasões norte-americanas na região que, na opinião do próprio, foram bem-sucedidas, como por exemplo no Panamá, em 1989.
Ideia persistiu na cabeça de Trump
No entanto, os argumentos apresentados pelos conselheiros não dissuadiram completamente os planos do presidente norte-americano. No dia seguinte, em 11 de agosto, Trump fazia declarações em Nova Jersey, na quais afirmava não descartar nenhuma opção.
“Temos muitas opções para a Venezuela. Não vou descartar uma opção militar”, disse.
“É um país vizinho. Temos tropas em todo o mundo em locais muito, muito distantes. A Venezuela não está longe, as pessoas estão sofrendo e morrendo. Temos muitas possibilidades para a Venezuela, incluindo a de uma opção militar se necessária”, reforçou então.
A Casa Branca anunciou mais tarde que Trump se recusou a receber, depois, uma chamada de Maduro, segundo o The Guardian. O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, considerou a ameaça de Trump como um “ato de loucura” e “extremismo supremo“.
Trump teria voltado pouco tempo depois a levantar a questão durante uma conversa com o então presidente da Colômbia e Nobel da Paz Juan Manuel Santos. Dois altos funcionários colombianos, que falaram sob anonimato, confirmaram a informação.
Um mês depois da reunião na Casa Branca, e à margem da Assembleia-Geral da ONU, Trump voltou a abordar a questão durante um jantar privado com os líderes de quatro países latino-americanos aliados dos EUA, entre os quais constava Juan Manuel Santos.
Segundo a AP, os assessores aconselharam especificamente a Trump para não falar de uma eventual invasão militar à Venezuela. No entanto, o presidente norte-americano ignorou, puxando o tema logo para o início da conversa.
“A minha equipa me disse para não dizer isso”, declarou então Trump, questionando os líderes latino-americanos se continuavam a não querer uma solução militar.
Os líderes presentes responderam de forma clara a Trump, confirmando que não queriam uma solução militar para a Venezuela.
A Venezuela não é, no entanto, o único país que Trump já direcionou ameaças. No ano passado, o presidente norte-americano alertou a Coreia do Norte para a iminência do “fogo e fúria” e destruição total do país caso tentasse ameaçar os EUA com armas nucleares e mísseis.
Depois da reunião histórica com Kim Jong-un no mês passado, Trump considerou o conflito como “impensável”, apontando que causaria a perda de milhões de vidas.
Ciberia, Lusa // ZAP