Um novo estudo liderado pela Universidade de Gante (Bélgica) descreveu uma “perda catastrófica e contínua” de anfíbios em todo o mundo.
Na estimativa “conservadora” da pesquisa, 501 espécies de sapos e outros anfíbios já foram devastadas pela quitridiomicose, uma doença causada por um fungo que viajou o mundo na esteira da globalização e do comércio de animais selvagens.
Quase 20% dessas espécies são consideradas extintas na natureza, e mais podem ser exterminadas à medida que os seres humanos destroem o meio ambiente.
A quitridiomicose é causada por duas cepas do fungo Batrachochytrium, tendo se espalhado da península coreana para o resto do mundo em um tempo espantosamente curto. A doença faz com que animais morram de insuficiência cardíaca.
Embora as duas linhagens só tenham sido descobertas em 1998 e 2013, a condição provavelmente vem impulsionando o declínio de anfíbios desde os anos 1980.
O novo estudo é o primeiro a ter uma visão global do impacto da quitridiomicose. “Havia uma necessidade de avaliar objetivamente esse impacto, que, infelizmente, acabou sendo mais grave do que o esperado”, disse Frank Pasmans, ecologista da Universidade de Gante.
As descobertas, que se baseiam em dados coletados pela União Internacional para a Conservação da Natureza, outros estudos e entrevistas com especialistas em anfíbios, mostram que a quitridiomicose causou a maior perda de biodiversidade atribuída a uma doença na história.
O fungo que causa a condição é a espécie invasora mais nociva do planeta. Além de 18% dos anfíbios atingidos serem extintos, outras 124 espécies viram suas populações diminuírem em 90% ou mais, colocando-as à beira da extinção. Apenas 60 espécies mostraram sinais de recuperação.
Pasmans observou que o pior da epidemia já passou em lugares onde a doença foi encontrada, após um pico nos anos 2000 no oeste da América do Sul, a região mais duramente atingida. Mas isso não significa que o perigo acabou. “Com a mudança global, a interação entre o fungo e o sapo pode mudar”, Pasmans contou ao portal Gizmodo.
Uma das cepas do fungo quitrídio, que afeta principalmente salamandras, também pode se espalhar para a Europa ou para as Américas, “regiões ricas em espécies altamente suscetíveis”.
“Isso deve nos fazer refletir sobre os danos que a globalização descontrolada pode causar à biodiversidade. Os anfíbios são atualmente o exemplo mais emblemático disso, mas situações semelhantes podem acontecer com qualquer organismo. Se quisermos preservar a biodiversidade, teremos que introduzir barreiras”, argumenta.
Como seriam essas barreiras, em um mundo com estradas, aviões, barcos e trens que cruzam ecossistemas?
Segundo Pasmans, a globalização abriu uma caixa de Pandora de espécies invasoras e doenças, e a mudança climática está aumentando o estresse.
O comércio global mais regulado, particularmente quando se trata de animais, poderia mitigar alguns dos riscos. Alguns cientistas até pediram a proibição da importação de todos os anfíbios para os EUA para impedir a disseminação do fungo. Intervenções mais agressivas onde o quitrídio ou outras espécies ou doenças invasivas foram encontrados poderiam oferecer outro caminho.
Se tudo falhar, podemos rezar pelo sucesso de um último recurso: “eventualmente, os sapos (pelo menos aqueles que não foram extintos) e o fungo podem aprender a coexistir”. Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Science.
// HypeScience