Líder de Hong Kong abandona discurso no Parlamento após protestos

Jerome Favre / EPA

Parlamentares pró-democracia forçam Carrie Lam a interromper pronunciamento anual. Sem conseguir completar fala, chefe do Executivo faz discurso sobre futuro político da região administrativa especial da China em vídeo.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, foi forçada nesta quarta-feira (16/10) a interromper seu discurso sobre políticas futuras para a região administrativa especial que fazia no Conselho Legislativo, em meio a protestos de parlamentares. Após uma segunda tentativa interrompida por legisladores, a governante acabou fazendo seu pronunciamento anual em vídeo.

O discurso de Lam foi anunciado como uma tentativa de conquistar apoio e restaurar a confiança em seu governo, após mais de quatro meses de intensos protestos pró-democracia.

Quando a governante começou a falar, parlamentares entoaram canções em defesa da democracia, abriram cartazes de protestos e acenaram com as mãos pintadas de vermelho simbolizando sangue. Legisladores pediram a renúncia da governante.

Após a primeira onda de protestos, Lam interrompeu o discurso e deixou o plenário, mas voltou minutos depois para tentar dar continuidade a fala. Novamente, ela não conseguiu fazer o pronunciamento. Cerca de 75 minutos depois de deixar o Conselho Administrativo, a governante enviou o vídeo com a mensagem.

O fracasso de Lam perante os parlamentares marcou um novo revés para o governo, que há meses é alvo de protestos. As manifestações começaram em junho em oposição a um projeto de lei, já derrubado, que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China continental.

Originados pela proposta, os protestos evoluíram, entretanto, para uma campanha a favor da democracia, que tem resultado em violentos confrontos entre manifestantes e a polícia.

No pronunciamento, Lam afirmou que o território enfrenta uma “grave crise” e alertou que “a violência contínua e a disseminação do ódio irão corroer os valores de Hong Kong”.

A governante anunciou ainda medidas para reduzir o déficit habitacional. A insatisfação com o alto preço dos imóveis é um dos motores dos protestos, principalmente entre os jovens.

“Estamos determinados a criar oportunidades de compra de imóveis para pessoas de diferentes grupos de renda”, destacou Lam, que novamente rejeitou renunciar ao seu cargo. Ela anunciou ainda a estatização de 700 hectares de propriedades privadas.

Lam descartou, porém, fazer mais concessões aos manifestantes, que pedem a libertação dos manifestantes detidos, um inquérito independente sobre a violência policial, a retração da palavra “motim” para descrever as manifestações, bem como o direito dos cidadãos de Hong Kong de escolher democraticamente seus líderes.

“Fazer concessões simplesmente por causa da escalada da violência só vai piorar a situação. Por outro lado, devemos considerar todos os meios para acabar com a violência”, disse.

O discurso ocorreu poucas horas depois de a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos ter aprovado projetos de lei que preveem sanções contra Pequim, caso a China não respeite as liberdades civis em Hong Kong. As propostas ainda precisam ser analisadas pelo Senado americano.

Pequim prometeu retaliação se as medidas entrarem em vigor e expressou “profunda indignação” com a possível interferência americana. “Hong Kong pertence à China, e os assuntos do território são assuntos internos da China “, declarou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang, citado pela agência de notícias estatal Xinhua.

A atual onda de protestos é a maior realizada contra o governo chinês desde que Hong Kong foi devolvida pelo Reino Unido para a China, em 1997. O processo de retorno foi firmado num acordo, em 1984, no qual os chineses se comprometeram a implementar o chamado modelo “um país, dois sistemas”, que previa a manutenção dos sistemas econômico e social vigentes e um elevado grau de autonomia (exceto em questões de defesa e relações externas) para o território, por ao menos 50 anos.

Desde então, Hong Kong tem o status de região administrativa especial da China, com uma legislação própria que garante, por exemplo, as liberdades de expressão e de reunião e que permite que o território continue sendo um importante centro financeiro e comercial.

Apesar da autonomia, os chineses têm a palavra final em Hong Kong, e a oposição reclama principalmente de uma excessiva interferência chinesa, afirmando que a China não está cumprindo à risca o que acertou com os britânicos.

// DW

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …