A prêmio Nobel da Paz defenderá seu país das acusações de genocídio da minoria muçulmana rohingya no tribunal internacional da ONU, em Haia.
A Corte Penal Internacional (CPI) autorizou em novembro que Mianmar, antiga Birmânia, seja investigada pela crise que levou aproximadamente 740 mil muçulmanos a se refugiarem em Bangladesh em 2017.
A líder birmanesa, vai liderar uma delegação oficial de seu país diante do tribunal de Haia. As primeiras audiências do processo de Aung San Suu Kyi começam nessa terça-feira (10) e continuam até quinta-feira (12), e constituem um exame preliminar aprofundado das acusações de limpeza étnica, mortes e violações realizado pelas forças de segurança civis e militares birmanesas.
A Gambia, um país de maioria muçulmana, fez uma queixa em nome de 57 países membros da Organização de cooperação islâmica em novembro desse ano, acusando Mianmar de violar a Convenção de 1948 sobre o genocídio. No mesmo mês, outra queixa foi depositada por organizações de defesa dos direitos humanos em um tribunal da Argentina. Dessa vez, visando não somente os responsáveis militares, mas também a prêmio Nobel.
Em 14 de novembro, os juízes da CPI deram permissão para que uma investigação fosse feita sobre as alegações de crimes contra a humanidade cometidos durante as operações do exército birmanês. Essa investigação poderia levar a ordens de prisão de generais. Mas o processo pode ser longo e necessitaria a cooperação de Bangladesh e da Birmânia para entregar os acusados.
Investigadores de uma missão da ONU para estabelecimento de fatos na Birmânia, criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em março de 2017, pediram em setembro de 2018 que seis responsáveis do exército do país fossem acusados de genocídio.
Reputação em baixa
Contra as acusações de violações de direitos humanos, a Birmânia se defendeu afirmando que eram operações antiterroristas, realizadas em represália a ataques de rebeldes rohingyas a postos de fronteira. Suu Kyi foi muito criticada na época por minimizar a situação denunciada por vítimas e testemunhas no país.
Partidos políticos e grupos armados rebeldes apoiam Suu Kyi. Em Mianmar, os rohingyas são considerados imigrantes ilegais.
Símbolo da democracia na Ásia, a líder birmanesa, antes colocada ao lado de figuras como Mahatma Gandhi e Nelson Mandela, agora é vista como responsável por uma ofensiva militar que deixou milhares de vítimas e refugiados, com o objetivo de eliminar uma minoria étnica.
Sua história de luta contra a ditadura militar em seu país comoveu o ocidente e a fez ganhar vários prêmios, entre eles o Nobel da Paz em 1991. Após a polêmica em torno da líder, a Anistia Internacional retirou o prêmio de “embaixadora de consciência” concedido em 2009. O Canadá também retirou a nacionalidade canadense da líder birmanesa.
// RFI