A Máquina de Anticítera permanecia há mais de um século como um dos grandes mistérios do planeta até março desse ano: espécie de primeiro computador da história, o mecanismo com mais de 2 mil anos era capaz de prever na Grécia antiga o movimento dos astros e fenômenos astronômicos, e foi encontrado em um naufrágio no mar mediterrâneo em 1901.
Datando como artefato da época do Império Romano, a máquina descoberta representa somente um terço do que era de fato o mecanismo, e seu funcionamento permanecia uma incógnita para cientistas e arqueólogos – uma nova reconstituição, porém, pela primeira vez responde às principais questões.
A nova reconstituição, realizada por cientistas da University College London e publicada na revista Scientific Reports, pela primeira vez buscou justamente determinar a totalidade da máquina e, assim, seu funcionamento.
Parte da reconstrução se baseou em leituras em raio-x realizadas nos 82 fragmentos, com mais de 30 rodas e diversos discos, que compõem a máquina, que revelaram diversos textos com informações astronômicas no verso de um dos discos, cobertas pelos efeitos da corrosão – há inclusive uma detalhada descrição da posição dos astros nos céus de então.
Dentre os dados descobertos pelo raio-x, a inscrição de dois números foi fundamental para compreender que como a máquina funcionava, e a precisão de seus cálculos: representando ciclos de Vênus e Saturno em movimento, a máquina calculou os números de 462 anos e 442 anos corretamente.
A partir de tal resultado, utilizando as teorias matemáticas já estabelecidas há 2 mil anos, os pesquisadores utilizaram uma espécie de engenharia reversa e, aplicando o mecanismo a outros planetas, puderam projetar novamente a mecânica do mais antigo e analógico computador que se tem notícia.
Tecnologia do futuro na Grécia antiga
Ainda que explicada parcialmente, trata-se de tecnologia radicalmente avançada para a época, e o mistério sobre como os gregos chegaram a tal estágio com o que havia disponível então permanece, assim como a total ausência de registros similares na literatura arqueológica.
Segundo consta, o funcionamento das engrenagens em bronze da Máquina de Anticítera é parecido com o de um relógio de pêndulo, incluindo encaixes milimétricos de tubos e outras mecânicas impressionantes para o período.
“A astronomia clássica do primeiro milênio antes de Cristo se originou na Babilônia, mas nada na astronomia sugere como os gregos antigos conseguiram calcular com alta precisão o ciclo de 462 anos de Venus e o de 442 anos de Saturno”, afirmou Aris Dacanalis, parte da equipe de pesquisa, em comunicado.
“Trata-se de um avanço teórico fundamental”, complementou Adam Wojcik, coautor do estudo, a respeito do modelo construído digitalmente pelos pesquisadores, que pretendem agora torná-lo concreto: construir a máquina não digitalmente, mas em uma versão física e funcional. “Agora devemos provar que esse modelo é viável, reconstruindo-o na prática usando técnicas antigas”, concluiu Wolcik.
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