Uma equipe de pesquisadores recuperou o DNA de uma das espécies mais enigmáticas descobertas por Charles Darwin, as macrauquênias, para assim traçar seu parentesco com os atuais cavalos, rinocerontes e tapires, publicou nesta terça-feira (27) a revista científica Nature Communications.
O novo estudo, liderado pela Universidade de Potsdam, na Alemanha, e o Museu Americano de História Natural, nos Estados Unidos, joga luz sobre um dos ungulados (mamíferos que têm cascos ou patas nas extremidades) da América do Sul, que viveu durante a última glaciação e deixava os biólogos perplexos há mais de um século.
Em 1834, Darwin encontrou os primeiros fósseis deste animal no Uruguai e na Argentina, e os passou ao renomado paleontólogo britânico Richard Owen, que ficou desconcertado pela sua incomum combinação de características que impedia estabelecer suas relações evolutivas.
Uma de suas características mais extraordinárias era a posição das aberturas nasais, que, ao contrário da maioria dos mamíferos, não ficava logo acima dos dentes frontais, mas entre os olhos, o que poderia indicar a presença de uma tromba, como os elefantes, ou de narinas que se abrem e fecham como a de focas.
Para resolver o mistério, os pesquisadores recorreram à análise do DNA mitocondrial extraído de um fóssil achado em uma cova no sul do Chile, em combinação com uma nova metodologia mais confiável para completar os segmentos genéticos danificados pelo passar do tempo.
Segundo Michi Hofreiter, especialista em paleogenética, ao avaliar o grau de parentesco entre espécies através do DNA mitocondrial, o estudo concluiu que os parentes atuais mais próximos das macrauquênias seriam os mamíferos placentários conhecidos como perissodáctilos, que englobam cavalos, rinocerontes e tapires.
Ao reconstruir quase 80% do genoma mitocondrial das macrauquênias, os cientistas puderam situá-lo exatamente em um grupo mais amplo, os panperissodáctilos.
Segundo as conclusões da pesquisa, a linhagem das macrauquênias e dos perissodáctilos modernos se separou há 66 milhões de anos.
Para o especialista em mamíferos Ross MacPhee, o sul do Chile oferece, graças a seu clima mais frio, mais possibilidades de encontrar fósseis com DNA conservados em bom estado. Isso abriria a porta, no futuro, para novas espécies sul-americanas unguladas serem analisadas, como o toxodonte, que Darwin classificava como “o animal mais estranho já descoberto”.
// EFE