Anistia Internacional acusa empresas farmacêuticas de deixar países pobres sem vacinas anticovid

A ONG Anistia Internacional divulgou um relatório nesta quarta-feira acusando os grandes grupos farmacêuticos que produzem vacinas contra a Covid-19 de alimentar uma crise de direitos humanos sem precedentes. Por essa razão, a entidade faz um apelo para o envio urgente de 2 milhões de doses de vacinas anticovid para os países pobres.

No relatório intitulado de “Vacinas contra a Covid-19: Uma Dose de Desigualdade”, a ONG Anistia Internacional afirma que as empresas farmacêuticas não priorizam os países mais pobres. A publicação acontece durante uma cúpula mundial sobre imunizantes que está sendo realizada virtualmente.

“Vacinar o mundo é nossa única saída desta crise. Deveria ser hora de saudar essas empresas, que criaram essas vacinas tão rapidamente, como heróis”, afirmou a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnes Callamard, em um comunicado.

“Mas, em vez disso, para sua vergonha e dor coletiva, o bloqueio intencional da transferência de conhecimento das grandes empresas farmacêuticas e suas manobras em favor dos Estados ricos criaram uma escassez de vacinas totalmente previsível e totalmente devastadora para tantos países”, reiterou.

Desrespeito dos direitos humanos

Para chegar a essas conclusões, a Anistia analisou as políticas da AstraZeneca, Pfizer, BioNTech, Moderna, Johnson & Johnson e Novavax – cuja vacina ainda não foi aprovada – sobre direitos humanos, preços, propriedade intelectual, intercâmbio de conhecimento e tecnologia, alocação de doses e transparência.

Segundo a ONG, “em vários graus, os seis fabricantes de vacinas falharam em cumprir suas responsabilidades no que diz respeito aos direitos humanos”.

O documento aponta que das 5,76 bilhões de doses administradas, apenas 0,3% foram para países de renda “baixa”, enquanto 79% foram para países de renda “média-alta” e “alta”, de acordo com a ONG. Segundo a Anistia, Pfizer, BioNTech e Moderna planejam obter um lucro total de US$ 130 bilhões até o final de 2022.

A ONG alerta, no entanto, que “os lucros nunca devem ser mais importantes que as vidas”. Se a maioria dessas empresas receberam “milhares de dólares dos governos para financiamento, os fabricantes de vacinas monopolizaram a propriedade intelectual, bloquearam as transferências de tecnologia e limitaram de maneira agressiva as medidas que permitiriam estender a fabricação desses imunizantes em todo o mundo”, ressalta.

Resposta insuficiente

Antes da divulgação do relatório, a ONG também afirma ter contatado as fabricantes citadas. Todas as empresas responderam, com exceção da Novavax, e afirmaram que uma distribuição justa e igualitária, especialmente nos países pobres, é essencial.

A resposta, no entanto, foi considerada insuficiente pela Anistia Internacional.

// RFI

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