Um cavalo enterrado em Tombos, no vale do Nilo, revela a importância ancestral desse animal na região e abre uma janela nas relações humano-animais há mais de 3 mil anos.
As descobertas foram publicadas na semana passada na revista Antiquity. O cavalo de Tombos foi descoberto em 2011 e os membros da equipe de Purdue, a professora Michele Buzon e a ex-aluna Sarah Schrader, participaram da escavação e da análise.
O cavalo está datado do Terceiro Período Intermédio, entre 1050 e 728 antes de Cristo, tendo sido encontrado a 1,2 metro de profundidade em uma tumba. O cavalo, ainda com restos de pele de cor castanha, tinha sido sepultado em uma posição funerária com um sudário, tecido utilizado pelos humanos para secar o suor e, muitas vezes, utilizado para envolver cadáveres de pessoas.
“Estava claro que o cavalo teve um enterro intencional, o que é muito fascinante”, disse em comunicado Buzon, professor de antropologia. “Os restos de pano nos cascos indicam a presença de um sudário. As mudanças nos ossos e as peças de ferro de uma flange sugerem que o cavalo poderia ter sido usado para puxar um carro. Tínhamos encontrado algo como isso nas escavações anteriores em Tombos. Os restos de animais são muito raros no sítio.”
Buzon, um bioarqueólogo, trabalhou com Stuart Tyson Smith, professor de antropologia na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, durante 18 anos neste local, no atual Sudão, e ambos são os pesquisadores principais do projeto.
Buzon utiliza a evidência cultural e de saúde de mais de 3 mil anos de antiguidade para entender as vidas dos núbios e dos egípcios durante o tempo do Império Novo.
Isso ocorreu quando os egípcios colonizaram a área, aproximadamente em 1500 a.C., para ter acesso às rotas comerciais no rio Nilo. Com os anos, centenas de artefatos, incluindo ferramentas, esculturas e pratos, foram desenterrados neste sítio que serviu de de cemitério para cerca de 200 pessoas.
“Encontrar o cavalo foi algo inesperado“, disse Schrader. “Inicialmente não estávamos seguros se era moderno ou não. Mas à medida que descobrimos lentamente os restos, começamos a encontrar artefatos associados ao cavalo, como o besouro e o sudário. Foi aí que nos demos conta da importância da descoberta. Nos emocionamos ainda mais quando avaliamos as datas de carbono 14 e confirmamos a idade do animal.”
“O cavalo foi bem tratado durante a vida, já que viveu até uma idade madura. Também foi importante para o povo porque foi enterrado, um ritual que geralmente está reservado aos humanos. Além disso, o fato de uma das peças de ferro da África se encontrar associada ao cavalo reitera como foi especial para esse povo”, explicou Schrader.
Ciberia // ZAP / Europa Press