Uma protoestrela gigante, profundamente aninhada no seu berçário estelar poeirento, está a brilhar quase 100 vezes mais do que antes. Esta explosão apoia a teoria de que as estrelas jovens podem sofrer surtos de crescimento intenso que remodelam o seu ambiente.
Uma protoestrela é um protótipo de estrela, ou seja, um objeto candidato a se tornar uma estrela caso sua massa seja grande o suficiente.
Os astrônomos fizeram esta descoberta comparando novas observações do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), no Chile, com observações anteriores do SMA (Submillimeter Array) no Hawaii.
“Tivemos a sorte de detectar esta espetacular transformação de uma estrela jovem e massiva,” comenta Todd Hunter, astrônomo do NRAO (National Radio Astronomy Observatory) em Charlottesville, no estado norte-americano de Virginia, autor principal de um artigo publicado na revista Astrophysical Journal Letters.
“Através do estudo de uma densa nuvem de formação estelar, tanto com o ALMA como com o SMA, pudemos ver que algo dramático ocorreu, mudando completamente um berçário estelar ao longo de um período de tempo surpreendentemente curto”, adiantou.
Em 2008, antes da era do ALMA, Hunter e colegas usaram o SMA para observar uma porção pequena, mas ativa da Nebulosa Pata de Gato (também conhecida como NGC 6334), um complexo de formação estelar localizado a cerca de 5500 anos-luz da Terra na direção da constelação de Escorpião.
Esta nebulosa é semelhante, em muitos aspetos, à Nebulosa de Orionte, que também está repleta de estrelas jovens, grupos de astros e núcleos densos de gás que estão prestes a setornar estrelas. A Nebulosa Pata de Gato, no entanto, está formando estrelas a um ritmo mais rápido.
As observações iniciais, pelo SMA, desta região da nebulosa, apelidada NGC 6334I, revelaram o que parecia ser um típico protoenxame: uma nuvem densa de poeira e gás que abrigava várias estrelas ainda em crescimento.
As estrelas jovens se formam nestas zonas quando regiões de gás se tornam tão densas que começam a colapsar sob a sua própria gravidade. Ao longo do tempo, formam-se discos de poeira e gás em torno destas estrelas nascentes e afunilam material para as suas superfícies, ajudando seu crescimento.
No entanto, este processo pode não ser inteiramente lento e estável. Os astrônomos agora pensam que as estrelas jovens podem também sofrer surtos espetaculares de crescimento, períodos em que rapidamente adquirem massa devorando o gás da formação estelar.
As novas observações registadas em 2015 e 2016, revelam que, nos anos desde as observações originais do SMA, ocorreram mudanças dramáticas numa área do protoenxame chamada NGC 6334I-MM1. Esta região é agora quatro vezes mais brilhante em comprimentos de onda milimétricos, o que significa que a protoestrela central é quase 100 vezes mais luminosa do que antes.
Os astrônomos especulam que a razão por trás deste aumento é um aglomerado invulgarmente grande de material que foi atraído para o disco da estrela, criando uma confusão de poeira e gás. Assim que o material acumulado se tornou suficiente, a confusão estourou, libertando uma avalanche de material sobre a estrela em crescimento.
Este evento extremo aumentou consideravelmente a luminosidade da estrela, aquecendo a sua poeira circundante. Apesar de já terem sido observados eventos semelhantes sob luz infravermelha, esta é a primeira vez que tal evento foi identificado em comprimentos de onda milimétricos.
Surgiu uma confirmação adicional deste evento em dados complementares obtidos pelo Observatório de Radioastronomia de Hartebeesthoek na África do Sul, que revelam um pico abrupto e dramático na emissão de masers desta região no início de 2015, apenas alguns meses antes da primeira observação do ALMA. Tal pico é precisamente o que os astrônomos esperariam ver caso uma protoestrela sofresse um grande crescimento.
“Estas observações dão força à teoria de que a formação estelar é pontuada por uma sequência de eventos dinâmicos que constroem uma estrela, em vez de um crescimento contínuo e suave,” diz Hunter.
“Também é importante monitorizar estrelas jovens no rádio e em comprimentos de onda milimétricos, porque estes comprimentos de onda nos permitem perscrutar as profundezas das mais jovens regiões de formação estelar. A observação destes eventos, no seu estágio mais inicial, pode revelar novos fenômenos do processo de formação das estrelas”, conclui.
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