Desafiados a associar o sono ao envelhecimento, uma equipe de cientistas encontrou uma ligação entre a síndrome da apneia obstrutiva do sono e oito marcadores do processo de envelhecimento celular prematuro.
Uma equipe de pesquisadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra, em Portugal, encontrou uma ligação entre a síndrome de apneia obstrutiva do sono e oito marcadores do processo de envelhecimento celular prematuro.
A perturbação do sono está relacionada com um maior risco de desenvolver várias doenças, entre elas problemas cardíacos, demência e até acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Contudo, o envelhecimento celular prematuro pode ocorrer em pessoas que não sofrem da patologia e que, simplesmente, dormem mal.
Segundo o Público, a equipe de pesquisadores procurou estudos anteriores que tivessem tentado relacionar a apneia do sono com marcadores que já se sabia que estão relacionados com o envelhecimento celular, como problemas nucleares, mitocondriais, alterações epigenéticas do DNA, entre outros.
Cláudia Cavadas, pesquisadora do CNC, admite ao jornal que encontraram uma “correlação entre a apneia e, pelo menos, oito dos marcadores de envelhecimento”, em um artigo publicado na revista Cell em julho de 2017.
No texto, os cientistas defendem que o envelhecimento celular prematuro pode facilitar o desenvolvimento de doenças associadas ao envelhecimento e fazer com que apareçam mais cedo. “Foi a primeira vez que as duas coisas se uniram, a apneia do sono ao envelhecimento”, admite Cláudia Cavadas.
No entanto, o maior risco à qualidade do sono “é a falta de respeito que há” por ele, alerta o médico Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono e outro dos autores do artigo publicado na Cell, considerando que é necessário combater “uma cultura” de dormir pouco e sem regra.
“O sono ainda não é valorizado como algo essencial para nosso bem-estar e nossa saúde”, disse à Joaquim Moita à agência Lusa.
“Achamos que trabalhar é mais importante que dormir. Mas depois, qual será a rentabilidade no trabalho? O que se produziu do ponto de vista físico e intelectual? Se não dormimos oito horas, a rentabilidade é mais baixa, e as empresas são regidas cada vez mais pela rentabilidade do que pelo número de horas”, destacou o presidente.
Além de alertar para a importância de dormir mais horas, salienta que é necessário não ir atrás de “manias e modas”, como “levantar bem cedo e sair para correr”, pois “é caminho andado para um enfarte”.
Normalmente, o ritmo endógeno do ser humano diz que “às 6h está na hora de se preparar para acordar”, produzindo cortisol (hormônio associado à atividade e movimento), sendo que perto das 21h, com a escuridão, começa a ser liberada melatonina (associada ao sono), que atinge seu pico por volta das 0h, explicou Francisco Moita.
Frente a esse processo, o Sol acaba sendo um “marcador do tempo”, que ajuda a sincronizar o ambiente e o ritmo interno de cada um. O hábito de estar à frente de computadores, smartphones e televisões à noite acaba inibindo a liberação da melatonina, frente à emissão de luz azul pelos aparelhos.
O trabalho noturno também pode ter consequências, especialmente se for mais de oito horas por dia e durante mais de duas semanas e horários de trabalho muito flexíveis – situação verificada frequentemente entre profissionais liberais – também pode resultar em implicações para a saúde.
“Há uma hora para descansar e uma hora para estar acordado, mas a sociedade moderna não respeita muito nossos relógios e ritmos. É preciso combater a desregulação”, concluiu o especialista.
Ciberia // ZAP