Segundo um estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, pessoas que estão abertas a novas experiências podem ter mais informações visuais do que outras pessoas, combinando-as de formas únicas. Isso pode explicar porque elas tendem a ser particularmente criativas.
A “abertura à experiência” é um dos cinco grandes traços frequentemente usados para descrever a personalidade. Caracteriza-se pela curiosidade, criatividade e interesse em explorar coisas novas. Pessoas abertas tendem a ir bem em tarefas que testam a nossa capacidade criativa, como imaginar novos usos para objetos cotidianos.
Há alguma evidência de que as pessoas com maior grau de abertura também têm uma melhor percepção visual. Por exemplo, ao se concentrar em letras movendo-se em uma tela, elas são mais propensas a notar um quadrado cinza aparecendo em outro lugar na tela.
Agora, a pesquisadora Anna Antinori e sua equipe estão mostrando que as pessoas que pontuam mais alto quando se trata do traço de personalidade “abertura” veem literalmente mais possibilidades. “Elas parecem ter um portão mais flexível para a informação visual em sua consciência”, explica.
O estudo
Concluíram um teste de rivalidade binocular 123 estudantes universitários, no qual simultaneamente viram uma imagem vermelha com um olho e uma imagem verde com o outro olho por dois minutos.
Geralmente, o cérebro só pode perceber uma imagem de cada vez, e a maioria dos participantes relatou ver a imagem mudar de vermelho para verde. No entanto, alguns viram as duas imagens fundidas em uma mistura de vermelho e verde – um fenômeno conhecido como “percepção mista”.
Quanto maior a pontuação dos participantes quanto à abertura em um questionário de personalidade, mais eles experimentaram essa percepção mista.
Esta pode ser a primeira evidência empírica de que pessoas criativas têm diferentes experiências visuais do que o indivíduo médio. “Quando você apresenta o dilema de rivalidade binocular a pessoas abertas, seus cérebros são capazes de se envolver de forma flexível com soluções menos convencionais”, afirma Antinori.
Em contraste, os outros quatro traços de personalidade principais – extroversão, neuroticismo, amabilidade e conscienciosidade – não estavam significativamente ligados à experiência de percepção mista.
Os resultados podem explicar por que pessoas com um alto grau de abertura tendem a ser mais criativas e inovadoras – porque realmente percebem o mundo de forma diferente.
As descobertas também indicam por que pessoas extremamente abertas são mais propensas a paranoias e delírios: porque podem ver coisas que não existem ou interpretar mal alguns sinais.
No futuro
De acordo com Antinori, há semelhanças entre altos níveis de abertura e a experiência de tomar cogumelos mágicos.
Trabalhos anteriores de sua equipe descobriram que a psilocibina – um composto alucinógeno – aumenta a pontuação de abertura de uma pessoa em um questionário de personalidade e sua experiência de percepção mista em testes de rivalidade binocular.
A equipe também descobriu que algumas formas de meditação podem aumentar a percepção de imagem mista em testes de rivalidade binocular.
O próximo passo da pesquisa é ver se processos neurais semelhantes estão envolvidos em todas essas coisas, ou seja, na percepção mista, no pensamento criativo e nas mudanças na percepção visual causadas pela psilocibina e pela meditação. “Parece que a abertura altera o filtro da consciência, e gostaríamos de saber como”, conclui.
// HypeScience