“É importante lembrar que, de todas as ironias sobre Diana, talvez a maior seja esta: uma garota que recebeu o nome da antiga deusa da caça foi, no fim das contas, a pessoa mais caçada da era moderna.”
É difícil esquecer os versos contundentes proferidos pelo conde Charles Spencer, em um discurso emocionante – e por vezes ácido – no funeral de sua irmã mais velha, 25 anos atrás.
Diana, princesa de Gales, morreu aos 36 anos em 31 de agosto de 1997, em um acidente de carro em Paris. Também morreram seu companheiro, Dodi Al-Fayed, e o motorista do veículo, Henri Paul. O único sobrevivente foi o guarda-costas Trevor Rees-Jones, apesar de gravemente ferido.
A morte de Lady Di deixou o mundo inteiro em choque, mas as circunstâncias que cercaram o acidente também geraram uma onda de tristeza – e fúria.
O carro capotou enquanto trafegava em alta velocidade sob um túnel na capital francesa. Diana – que já foi considerada “a mulher mais fotografada do mundo”, era perseguida por paparazzi naquele momento.
A sociedade culpou os tabloides pela morte, que tiveram que enfrentar a ira não só do irmão Charles, mas dos dois filhos dela, os príncipes William e Harry, e do público em geral.
Em 1999, porém, investigadores franceses consideraram o motorista Paul o único responsável pelo acidente. Naquela noite, ele dirigia sob influência de álcool e medicamentos prescritos.
Já em 2008, um júri no Reino Unido concluiu que Diana foi morta ilegalmente pela condução imprudente de seu motorista e também pelos paparazzi que perseguiam o veículo. O veredito fez parte de um inquérito de seis meses que ouviu mais de 240 testemunhas.
Sob holofotes
As opiniões divergem sobre a própria cumplicidade da princesa em atrair a atenção da imprensa – seja por meio de suas escolhas de figurino; o livro de sucesso de 1992 escrito por Andrew Morton com cooperação dela; ou a entrevista de 1995 ao jornalista Martin Bashir, da BBC. No ano passado, um inquérito independente concluiu que o profissional teve um “comportamento desonesto” para garantir a entrevista com Diana, numa “violação grave” das normas da emissora britânica.
Foi nessa entrevista, ao programa Panorama da BBC, que Diana declarou: “Éramos três naquele casamento, então estava um pouco lotado” – referindo-se ao caso extraconjugal do príncipe Charles com sua agora esposa, Camilla Parker Bowles. Ela falou ainda sobre seus próprios casos, sua bulimia e suas tentativas de suicídio em meio ao estresse causado pelos protocolos rígidos da família real.
Diana, contudo, seguiu fortemente amada pelo público – provavelmente porque levou, até certo ponto, uma vida com a qual vários podiam se conectar: esposa obediente, mas injustiçada, mãe amorosa e dedicada, membro da realeza, mas “gente como a gente”, fashionista glamourosa, fã de música pop, dançarina ávida e defensora compassiva dos sem-teto e dos doentes.
Em 1987, sua decisão ousada de abandonar o protocolo real de usar luvas e apertar a mão de um paciente HIV positivo foi descrita pela imprensa como “um de seus melhores momentos humanitários”. E Diana seguiu utilizando sua fama para defender diversas causas – desde a luta contra minas terrestres até a promoção das artes.
Assim, ela cimentou seu status como um ícone da cultura pop. E desde então todos os passos de Diana forneceram manterial para inúmeras recontagens de sua vida na forma de documentários, entrevistas, filmes, uma série premiada da Netflix e até um musical de grande repercussão.
Rainha dos corações
Após sua morte em 31 de agosto de 1997, um visivelmente abalado Tony Blair, que era primeiro-ministro britânico na época, introduziu o termo “princesa do povo” para se referir a Diana.
“Vocês sabem como as coisas eram difíceis para ela de tempos em tempos, tenho certeza que só podemos imaginar. Mas indivíduos em todos os lugares – não apenas aqui no Reino Unido, mas em todo lugar – mantiveram a fé na princesa Diana”, afirmou Blair. “Eles a amavam, a consideravam parte do povo. Ela era a ‘princesa do povo’. E é assim que ela permanecerá em nossos corações e em nossas memórias, para sempre.”
Nascida Diana Frances Spencer, ela ganhou vários títulos após se casar com o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico. Com o divórcio, contudo, ela acabou perdendo o título de Sua Alteza Real – e a chance de se tornar a rainha da Inglaterra.
Na entrevista à BBC em 1995, ela contou como gostaria de ser reconhecida: “Gostaria de ser a rainha dos corações das pessoas, no coração das pessoas.”
Isso talvez explique os quase 2,5 bilhões de espectadores que assistiram a seu funeral há 25 anos – e por que ela continua sendo um tema de interesse da cultura pop até os dias de hoje.