O diário econômico francês Les Echos desta sexta-feira dedica sua capa e várias páginas ao movimento dos coletes amarelos, que completa um ano neste domingo. O jornal analisa as consequências dos protestos na economia francesa e no comportamento do chefe de Estado.
A crise dos coletes amarelos começou com o aumento dos impostos sobre os combustíveis e evoluiu para uma ampla pauta de reivindicações.
O presidente francês perdeu popularidade e teve que adotar, ainda em 2018, medidas propostas pelo movimento para melhorar o poder aquisitivo da população. O chefe de Estado também saiu em caravana pelo país para debater diretamente com os franceses.
O jornal Les Echos diz que outras crises se sobrepuseram àquela que levou multidões às ruas. Entre elas, a reforma da Previdência e a crise nos hospitais e nas universidades públicas, por exemplo.
O fato é que o efeito “coletes amarelos” fez com que Macron mudasse o seu comportamento. “Depois de uma primeira fase bastante vertical de seu mandato, ele garante ter aprendido, com esta crise, a ouvir e discutir mais, tendo os franceses como mediadores”, ressalta o jornal, que também acredita que, agora, o presidente tenha mais “humanidade.”
O Les Echos ainda lembra que o investimento de cerca de € 17 bilhões para tentar “apagar o incêndio social” no final do ano passado, fez com que a economia francesa resistisse melhor que seus vizinhos à desaceleração do crescimento da economia global, fazendo de Macron “um adepto de Keynes”, em alusão ao economista britânico John Keynes, que defende a função social do Estado na melhoria das condições de vida da população, o chamado Estado-Providência.
O jornal também destaca que o presidente mudou sua maneira de comunicar com o povo. No início do mandato, Macron protagonizou episódios que o levaram a ter fama de arrogante, como quando deu uma bronca em um jovem que o chamou de “Manu.”
Apesar disso, lembra o jornal, Macron não tem um projeto de coesão da sociedade e terá semanas difíceis pela frente: as greves anunciadas a partir do dia 5 de dezembro, para protestar contra a reforma da Previdência, garantem um fim de ano agitado para Macron e para os franceses.
O governo também teme que os coletes amarelos voltem às ruas para comemorar o aniversário de um ano dos protestos de forma violenta.
O movimento continua
Uma outra matéria no mesmo jornal diz que, apesar de enfraquecido, o movimento nunca deixou de existir.
“Os grupos no Facebook aspiram reencontrar esta visibilidade e convocam os coletes amarelos e se encontrarem na avenida Champs Elysées, que se tornou simbólica nas manifestaçõs”, escreve Les Echos.
As figuras emblemáticas do movimento também desapareceram da mídia. Apesar disso, diz o jornal, o movimento continua a ter a aprovação de 22% dos franceses, segundo pesquisa do instituto Elabe.
// RFI