Investigadores abrem novo caso contra opositor russo e seus colaboradores, acusados de tentarem desestabilizar o país. Se condenado, desafeto do presidente Putin, já preso, poderá ter pena aumentada em até 10 anos.
O Comitê Investigativo da Rússia, órgão que investiga os principais crimes no país, abriu nesta terça-feira (28/09) um novo inquérito com acusações de extremismo contra o líder oposicionista Alexei Navalny e seus principais colaboradores.
As novas acusações podem aumentar em até dez anos a permanência na prisão do opositor conhecido por ser uma das vozes mais críticas ao presidente russo, Vladimir Putin.
Entidades associadas a Navalny já haviam sido banidas por “extremismo” no início do ano. Em nota, os investigadores afirmam que Navalny, em 2014, “criou e dirigiu uma rede extremista” com o objetivo de “transformar as fundações sistema constitucional da Federação Russa”.
O ativista de 45 anos e seus principais colaboradores, Leonid Volkov e Ivan Zhdanov, são investigados por administrarem a suposta rede e o portal de internet da Fundação Anticorrupção (FBK) “com o objetivo de promover atividades criminosas”. Outros colaboradores, como Lyubov Sobol, são acusados de participarem nessas ações.
“As atividades ilegais da rede extremista tinham como alvo promover o descrédito das autoridades e suas políticas”, além de supostamente tentarem “desestabilizar a situação nas regiões” do país, e “influenciar a opinião pública quanto a necessidade de uma mudança violenta de poder”, disseram os investigadores.
O Comitê afirma que convocações para “atividades extremistas e terroristas” eram comuns nos protestos organizados pelo grupo.
Zhdanov, que liderava a FBK antes do banimento, descreveu o caso que, segundo disse, cobre todas as atividades do passado dos acusados, como uma “completa insanidade”.
Se condenados, Zhdanov, Volkov e Navalny poderão receber penas de seis a dez anos de prisão. Para Sobol e os outros ativistas, a punição poderá ser de dois a seis anos de detenção. “Essa é a resposta da questão, sobre de quem Putin tem medo e considera seu maior inimigo”, escreveu Sobol em seu perfil no Twitter.
A investigação surge pouco depois do partido de Putin conquistar mais cinco anos de controle sobre a câmara baixa do Parlamento russo.
Tentativa de envenenamento e prisão
Navalny foi preso em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.
Em fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a dois anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estadia na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014, ao não se apresentar regularmente para as autoridades.
A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
A prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.
Na prisão, o opositor chegou a fazer uma greve de fome. Ele passou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Navalny reclamava de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas.