As populações de baleias jubarte (Megaptera novaeangliae) experimentam uma “revolução cultural” entre espaços relativamente curtos de tempo, ao mudar suas antigas canções por um repertório mais simples e novo.
Segundo um novo estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, a assinatura musical dessa espécie evolui gradualmente ao longo dos anos – até esbarrar em uma “revolução cultural”, que obriga as baleias a recomeçarem do zero.
O verdadeiro propósito das canções emitidas pelas baleias jubarte macho é ainda um mistério para a comunidade científica. Os sons podem funcionar como um chamado de acasalamento ou então como uma forma de união macho-a-macho. No entanto, pode ser outra coisa qualquer – ninguém sabe ao certo.
O que os cientistas sabem, e como explicam na publicação, é que essas canções são extremamente complexas: todas as baleias cantam uma mesma música que evolui gradualmente, tornando-se mais complexa a cada ano que passa.
Esse ciclo encerra quando se dá uma “revolução cultural“, em que a população volta à estaca zero e reinicia todo o processo, mudando suas músicas antigas e complexas para melodias novas e mais frescas.
Esses resultados são fruto de uma pesquisa que levou mais de uma década. Jenny Allen, bióloga marinha da Universidade de Queensland, na Austrália, e seus colegas de estudo recolheram e analisaram as músicas de 95 baleias jubarte entre 2002 e 2014.
No total, a amostra contou com mais de 412 ciclos individuais de música, que foram posteriormente analisados em três eixos distintos: duração, repetibilidade e variação. Com isso, a equipe pretendia determinar o quão complexo era cada um desses ciclos.
Os cientistas notaram que as músicas iam sofrendo pequenas alterações todos os anos. Como resultado, as canções foram se tornando mais complexas e longas. No entanto, notaram ainda, sempre que se dava uma “revolução cultural”, a música mais recente era menos complicada do que a anterior.
A equipe não consegue determinar, com total certeza, o motivo das populações de baleia simplificarem suas canções com o passar do tempo. Contudo, apontam algumas sugestões: pode ser simplesmente uma preferência. Quanto mais simples é uma música, mais fácil é fazer com que um novo espécime a aprenda.
De acordo com os cientistas, os novos ciclos podem funcionar como uma estratégia para que as baleias mais novas possam aprender a música do grupo. É de frisar que os machos dessa espécie têm “hinos” próprios, nos quais todos os indivíduos os cantam na mesma sequência – no fundo, o novo ciclo pode ser uma forma de harmonizar a sonoridade.
“A redução consistente na complexidade das músicas durante as revoluções sugere um potencial limite na capacidade social de aprender material novo nas baleias jubarte”, explicou a cientista citada pela BBC.
A equipe frisou ainda que as canções são um forma de observar a cultura animal. “As canções das baleias jubarte são um dos melhores exemplo da cultura animal”, destacou ainda, acrescentando que “as jubarte estendem sua cultura de uma forma que só foi testemunhada até então nos humanos”.
Ciberia // ZAP