Não demorou muito para Donald Trump se recuperar de sua derrota – que, aliás, ele ainda não reconhece. No domingo (28), o ex-presidente encerrou a Conferência de Ação Política Conservadora em Orlando, na Flórida.
Diante de uma multidão de conservadores, ele criticou Joe Biden e os republicanos que o decepcionaram. Mas, se Trump descartou a ideia de criar um novo partido, a questão de seu retorno em 2024 permanece sem resposta. Para entender melhor o processo, a RFI entrevistou Jeremy Ghez, especialista na vida política norte-americana.
“Donald Trump esteve bem à vontade no retorno à sua vida política”, diz Jeremy Ghez. “Trump é um animal político cuja morte anunciamos diversas vezes, mas esse animal demonstra muita vontade de continuar a exercer um papel na vida política norte-americana”, analisa.
Ghez considera que a perpétua negação de Trump de sua derrota nas eleições presidenciais de 2020 faz parte de sua “imagem de marca”. “Ele sempre explicou à Terra inteira que ele era uma figura que o establishment tentava assassinar politicamente e, na verdade, os resultados ‘roubados’ da eleição são simplesmente a prova disso”, afirma o autor e pesquisador francês.
“Essa marca de fábrica o permite de conversar um certo elã político sobre aproximadamente um terço do eleitorado norte-americano, para quem esse tipo de discurso funciona maravilhosamente”, diz.
Para Ghez, a prudência de Trump se deve ao fato de seus advogados o terem prevenido de não se pronunciar de forma brusca, sobretudo sobre os eventos do 6 de janeiro, quando o Capitólio foi invadido.
Processo criminal?
“Ele corre um risco grande em caso de um processo criminal potencial, mas, além disso tudo, não tenho certeza que Trump tenha vontade de ser novamente presidente. Penso que ele mantém sobretudo ambições midiáticas e de influência na vida política norte-americana, mas não diria que se sente atraído por um novo mandato”, afirma. “Ele tenta manter suas opções em aberto, e é isso que ele fez em sua volta ao palco da política”, disse.
Ghez não acredita que Trump vá optar por criar um novo partido, depois de ter participado ativamente da desagregação do Partido Republicano, conservador, nos Estados Unidos. “Primeiro, isso custaria terrivelmente caro e ele não teria garantias de sucesso”, analisa.
“A divisão do Partido Republicano está em curso há quatro anos. A tradição conservadora tentou se apropriar de Donald Trump para ganhar a Casa Branca, mas nunca esteve verdadeiramente alinhada com sua visão populista do mundo”, diz o especialista.
“Hoje em dia alguns se dizem que, finalmente, a receita de Trump não era assim tão ruim, afinal ele teve 74 milhões de votos e foi capaz de abocanhar uma fatia do eleitoral tradicional democrata, indo buscar a população mais vulnerável, sobretudo no norte do país”, analisa.
“Esse debate dominará a cena política norte-americana pelos próximos dois anos e será apaixonado, porque será necessário indicar qual caminho o Partido Republicano finalmente seguirá”, conclui.
// RFI