Cientistas criam proteína que “mata” o cérebro

Pela primeira vez, cientistas conseguiram criar um príon artificial humano, ou seja, uma proteína infecciosa que provoca doenças que destroem o cérebro. Uma descoberta que pode ajudar a curar doenças neuro-degenerativas, como a Creutzfeldt-Jakob e o Alzheimer.

Os príons são proteínas produzidas pelo corpo que se desenvolveram de forma incorreta, provocando doenças. Eles se ligam a outras proteínas, transmitindo a elas sua anormalidade, “dando início a um efeito dominó que causa buracos microscópicos, tornando o cérebro uma esponja, o que resulta na deterioração progressiva, demência e, em alguns casos, morte”, como explicam os cientistas da Universidade norte-americana Case Western Reserve em comunicado.

Há várias doenças causadas por príons, sendo a mais conhecida a Creutzfeldt-Jakob. Mas o processo de formação destas proteínas patogênicas era um mistério que biólogos moleculares da referida universidade conseguiram desvendar agora.

A sintetização em laboratório de príons que infectam roedores já tinha sido conseguida antes, mas estes não eram infecciosos para os humanos.

Na pesquisa publicada na Nature Communications, os cientistas apontam como conseguiram criar “um novo príon humano, altamente destrutivo“, conforme se explica no citado comunicado.

Esse primeiro príon humano artificial foi desenvolvido a partir da proteína humana PrP, que foi modificada geneticamente e introduzida na bactéria Escherichia coli que depois expressa a molécula “altamente destrutiva” no cérebro.

No processo, acabaram descobrindo uma molécula específica que será essencial para a multiplicação dos príons e para a transmissão da doença a pacientes, denominada Ganglioside GM1.

Uma descoberta que abre a porta ao desenvolvimento de novos medicamentos, a fim de bloquear os efeitos da replicação de príons e, logo, combater doenças neuro-degenerativas como a Creutzfeldt-Jakob, bem como outras formas de demência.

“Nossas descobertas explicam, a nível estrutural, a emergência de novos príons humanos e fornecem uma base para compreender como diferenças aparentemente sutis, na estrutura da proteína anômala, e modificações afetam sua transmissibilidade, a segmentação celular, e, consequentemente, as manifestações nos humanos“, explica o professor de Patologia e Neurologia na Escola de Medicina da Case Western Reserve, Jiri G. Safar, que liderou a pesquisa.

“Conseguir gerar príons humanos sintéticos em laboratório, como fizemos, nos permitirá alcançar uma compreensão muito mais rica da estrutura e replicação de príons”, nota Safar no comunicado sobre o estudo. Esse conhecimento “é crucial para desenvolver inibidores da sua replicação e propagação por todo o cérebro, o que é essencial para travar doenças do cérebro com base em priões”, acrescenta.

Atualmente, a doença de Creutzfeldt-Jakob não tem cura, apresentando sintomas semelhantes ao mal de Alzheimer, designadamente demência, perdas de memória, dificuldades na visão e locomoção.

A sintetização deste primeiro príon humano artificial pode acabar também tendo repercussões positivas para quem sofre de Alzheimer ou Parkinson, já que “se espalham pelo cérebro de forma semelhante” à Creutzfeldt-Jakob.

Ciberia // ZAP

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