A Coreia do Norte indicou que continua aberta ao diálogo com os EUA, depois de Donald Trump ter cancelado o encontro entre os líderes dos dois países, o que Pyongyang considera uma decisão “extremamente lamentável”.
“Reiteramos aos EUA a nossa determinação de nos sentarmos frente a frente, a qualquer momento e da maneira que for, para resolver esse problema”, declarou Kim Kye Gwan, primeiro vice-ministro dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, em comunicado divulgado pela agência de notícias oficial do país, a KCNA.
“O anúncio abrupto da anulação da reunião foi inesperado para nós e só podemos qualificá-lo de extremamente lamentável“, acrescentou.
No mesmo dia, a Coreia do Norte concluiu o desmantelamento da base de testes nucleares, no que considera ser a “aposta pacífica” do regime de Pyongyang em um “mundo livre de armas atômicas”, assinalou a KCNA.
Foram detonadas pelo menos três das quatro redes de galerias subterrâneas do centro nuclear de Punggye-ri, na província de Hamgyong do Norte, no noroeste do país, perante cerca de 20 jornalistas de cinco países: Coreia do Sul, China, EUA, Rússia e Reino Unido.
Trump cancelou, nesta quinta-feira (24), a reunião com Kim Jong-un, prevista para 12 de junho em Cingapura, invocando uma “raiva tremenda e hostilidade aberta” por parte da Coreia do Norte. Em causa estão, por exemplo, as declarações da vice-ministra dos Negócios Estrangeiros, Choe Son-hui, que chamou Mike Pence de “idiota”.
“Não posso esconder a minha surpresa perante as observações idiotas e estúpidas vindas da boca do vice-presidente norte-americano”, salientou a governante, referindo-se a uma entrevista de Pence na qual ele afirmou que o processo de desnuclearização podia seguir o modelo da Líbia, que terminou com a morte de Muammar Kadhafi, depois de ele ter renunciado ao projeto de construir a bomba atômica.
Trump ameaça (mas não descarta novo encontro)
Na Casa Branca, pouco depois de anunciar o cancelamento da reunião, o chefe de Estado advertiu que as Forças Armadas norte-americanas “são, de longe, as mais poderosas do mundo” e garantiu estar em contato com a Coreia do Sul e o Japão para a eventualidade de ser necessária uma atuação conjunta.
Trump assegurou que o Pentágono “está preparado” para o caso de ser necessário tomar medidas militares contra a Coreia do Norte, se o regime norte-coreano responder ao cancelamento da reunião bilateral com gestos “ingênuos ou imprudentes”.
No entanto, não deixou de lado a hipótese de o encontro vir a acontecer. “Podem acontecer muitas coisas, incluindo, quem sabe, a reunião poder ser realizada em data posterior. Ninguém deve estar ansioso, temos de fazer as coisas bem feitas“, afirmou.
“Se Kim Jong-un decidir se relacionar conosco com diálogo e medidas construtivas, estarei à espera”, assegurou. “Entretanto, nossas fortíssimas sanções, que são as mais fortes já impostas, e nossa campanha de pressão máxima continuarão, como até agora”.
Segundo o Público, o cancelamento da reunião foi recebido com desilusão por todo o mundo, começando pela vizinha Coreia do Sul, que afirmou “tentar entender qual é a intenção do presidente Trump e qual o seu real significado”.
O presidente russo, Vladimir Putin, também lamentou o desfecho, lembrando, em coletiva de imprensa conjunta com o presidente francês, Emmanuel Macron, que Pyongyang “cumpriu sua parte”, tendo iniciado o desmantelamento do seu local de testes nucleares.
Ciberia, Lusa // ZAP