O jovem diretor brasileiro Cali dos Anjos, de 25 anos, ganhou neste fim de semana o Prêmio 150 anos Canadá para Jovens Cineastas. Ele venceu com o documentário Tailor, que tenta romper preconceitos. O filme mostra a vida de um quadrinista transexual e a capacidade das pessoas trans para criar e produzir.
Cali dos Anjos, que também é trans – trans não binário, que não se identifica com gênero masculino nem feminino – ganhou uma viagem ao Canadá, cursos de cinema e de inglês em escolas de Toronto.
“Os lideres de amanhã são os lideres de hoje, suas vozes tem tremendo impacto para poder mudar o mundo e o Canadá quer motivá-los”, disse durante a premiação Ricardo Savone, o embaixador do Canadá no Brasil.
Calí dos Anjos agradeceu: “Eu esqueci de agrecer ao Tailor. O trabalho dele foi incrível e ajudou muita gente! Obrigado”, disse.
Formado em Comunicação Social na UFRJ e em Filmmaking na New York Film Academy, há alguns anos Calí dos Anjos vivia com medo, tinha que mentir o nome para conseguir emprego e escondia sua identidade de gênero.
Em 2015 foi o primeiro diretor transgênero a ser contemplado por um edital da RioFilme, empresa pública de investimento em audiovisual, vinculada à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele recebeu R$ 80 mil de incentivo do edital para o documentário Tailor.
O filme
Com o apoio da SUMA Filmes e produção de Bia Medeiros, o documentário é uma mistura de Live-Action (cenas com atores e ambientes reais) com animação que retrata a vida de Tailor, quadrinista trans que produz histórias em quadrinhos de teor político e que discutem transfobia, racismo, misoginia, gordofobia e outras formas de opressão.
A escolha da vida da personagem como tema para seu documentário não veio à toa.
“Quando eu me descobri trans não binário em 2012, Tailor foi uma das primeiras pessoas trans brasileiras com quem eu tive contato. Tailor foi importante para eu perceber que existiam pessoas trans produzindo. Seus quadrinhos me fizeram entender mais sobre esse universo e sobre o universo de outras minorias”, contou Calí.
Com o filme, o diretor passou a acreditar que é possível fazer o que ama e, ao mesmo tempo, assumir sua identidade de gênero. “Muitas vezes eu achei que não era possível, quando menti meu nome em entrevista de emprego, quando eu perdi o cliente que percebeu que eu era trans. Eu achava que ia ter que ficar me escondendo”, relata.