Uma equipe de cientistas retirou de ratinhos machos uma parte do DNA que não comanda a fabricação de qualquer proteína. Com isso, os animais desenvolveram ovários em vez de testículos.
No estudo, publicado semana passada na revista Science, os cientistas concluíram que se os mamíferos tiverem a proteína SOX9, codificada pelo gene Sox9, em dose suficiente, desenvolverão testículos.
“A quantidade de SOX9 produzida inicialmente é controlada pela proteína SRY, que é codificada pelo gene Sry, localizado no cromossomo Y”, informa um comunicado sobre o trabalho.
“Esta é a razão pela qual os machos, que têm um cromossomo X e outro Y, normalmente desenvolvem testículos, enquanto as fêmeas, que têm dois cromossomos X, não.”
Em experiências com embriões de ratinhos machos, os cientistas removeram geneticamente uma parte do DNA não codificante chamada “amplificador 13”, que se situa a meio milhão de bases de distância do gene Sox9, explica o Público. Foi verificado assim que esses animais desenvolveram ovários, órgãos genitais femininos internos.
Nitzan Gonen, do Instituto Francis Crick, referiu que, “tipicamente, muitas das regiões dos amplificadores trabalham juntas para estimular a expressão dos genes, sem que nenhum amplificador tenha um efeito enorme”. Só neste estudo, a equipe conseguiu identificar um único amplificador que tem muito poder na hora do desenvolvimento sexual.
“Nosso estudo também evidencia o importante papel do DNA não codificante que alguns ainda referem como DNA ‘lixo’. Se um único amplificador consegue ter esse impacto na determinação do sexo, outras regiões não codificantes poderiam ter efeitos consideráveis semelhantes”, diz o geneticista.
Cerca de 98% do DNA humano é composto por DNA não codificante, uma parte que não codifica qualquer proteína. Por esse motivo, esse tipo de DNA era considerado como ‘lixo’. No entanto, atualmente se sabe que tem um papel preponderante no controle da atividade dos genes.
O estudo poderia ajudar a explicar por que as pessoas com cromossomos XY, e que têm em falta um grande fragmento de DNA nesta região do genoma, desenvolvem órgãos sexuais femininos.
“Pensamos que o amplificador 13 é, provavelmente, relevante nos distúrbios do desenvolvimento sexual nos humanos e potencialmente poderia ser usado para ajudar a diagnosticar algumas dessas causas”, conclui Robin-Lovell Badge, do Instituto Francis Crick e um dos autores do artigo.
Ciberia // ZAP